Sonia Penin faz saudação à Adolpho José Melpi, novo Acadêmico da APE
Discurso da acadêmica Sonia Teresinha de Sousa Penin, Titular da Cadeira 11 em saudação ao professor, pesquisador e ex-reitor da Universidade de São Paulo, Adolpho José Melfi, por ocasião de sua posse como Acadêmico Titular da Cadeira 19 da Academia Paulista de Educação. A posse ocorreu em 4 de dezembro de 2023, no auditório da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin.
“Prezadas Senhoras e Prezados Senhores aqui presentes.
Nesta cerimônia da Academia Paulista de Educação, tenho não só a honra, mas também a agradável tarefa de trazer aos presentes, alguns aspectos da vida de trabalho educacional do Prof. Adolpho José Melfi, que motivaram sua eleição para ocupar a cadeira no. 19 dessa Academia.
Preliminarmente, todavia, exporei rapidamente algumas informações a respeito desta cadeira 19, que teve como Patrono o Médico e Professor Carlos Pasquale e como fundador Oswaldo Quirino Simões.
Carlos Pasquale, o Patrono, médico e professor, exerceu inúmeros cargos na área da educação, sobretudo nos anos 60-70, entre elas: organizou e dirigiu o Fundo Estadual de Construções Escolares em São Paulo, participou do Conselho Estadual de Educação, assim como do Conselho Federal de Educação, dirigiu o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, INEP/MEC, foi, interinamente, secretário de Educação do Estado de São Paulo, fechando sua carreira como Diretor Regional do SENAI-SP.
Oswaldo Quirino Simões, o Fundador, criou, juntamente com Mário Bruno Capuani, o primeiro Curso Técnico de Química de toda a América Latina, em 1956, no Colégio Oswaldo Cruz de São Paulo. Pela criação deste 1º. curso técnico ambos, Simões e Capuani, foram aclamados como educadores com uma visão além do seu tempo.
Lendo a respeito das atividades desses dois membros desta mesma cadeira – Simões e Pasquale – um, criando o primeiro curso técnico nos anos 50 e outro, anos depois, trabalhando em prol do desenvolvimento do ensino técnico para jovens – ensino este em geral pouco valorizado na estrutura educacional pública – entendo como oportuno análises mais profundamente essa história, de modo a melhor compreender muitos dos questionamentos que permeiam a discussão atual relativa ao modelo curricular mais adequado para o Ensino Médio.
Para tal análise, certamente é da maior importância considerar os diferentes níveis de complexidade de conhecimentos técnicos existentes nos anos 50, quando Quirino Simões propôs o 1º Curso Técnico, época em que o Brasil engatinhava na Indústria e, depois, nos anos 70, os ininterruptos avanços da TI no contexto da 3ª Revolução Industrial, progredindo até os dias atuais, quando se inicia a 4ª revolução Industrial. Esse caminhar de sofisticação, não somente no campo da indústria, mas de todas as áreas de conhecimento e de trabalho, impõe uma acurada decisão na estruturação dos cursos de formação dos jovens em qualquer nação. Creio que é um alerta para nós, brasileiros em geral e acadêmicos da educação em particular, o fato de que enquanto o percentual de alunos matriculados no ensino médio em programas de educação profissional nos países da OCDE é em volta de 42%, no Brasil é de apenas 10%.
Buscando fechar aqui, o incontrolável impulso de, no âmbito desta fala – aproveitando a menção à luta de Quirinos e Pasquales para oferecer cursos técnicos para jovens brasileiros – e assim assinalar a importância das soluções que o país pode dar com o Novo Ensino Médio, devo ainda utilizar-me das preliminares deste texto, informando que, entre os outros antecessores da Cadeira 19, estão os Profs. José Mario Pires Azanha e Celso de Rui Beiseigel.
Ambos são professores eméritos da FE-USP, bem conhecidos de todos os acadêmicos aqui presentes, e creio que me junto a muitos ao mencionar a relevância de cada um na história da educação brasileira, seja pelas obras que deixaram, seja pelas diversas ações que tomaram em vida. Pessoalmente, tive o privilégio de tê-los, primeiro como professores e, posteriormente como parceiros de trabalho em diferentes espaços, como a própria FE-USP e o CEE-SP.
Passo assim, dos antecessores para o próximo acadêmico aprovado por esta Academia para assumir a cadeira 19, o Prof. Adolpho José Melfi. Situarei aqui apenas alguns aspectos da sua vida profissional, de maneira resumida, deixando para ele indicar os trabalhos mais importantes ou instigantes de seu percurso profissional.
Graduado em Geologia pela Universidade de São Paulo e, já na sequência, completado o doutorado em Geociências (Geoquímica e Geotectônica) em 1967, atualmente é professor titular Sênior da Universidade de São Paulo, lotado no Instituto de Energia e Ambiente, onde continua desenvolvendo suas pesquisas.
Em toda sua trajetória de pesquisador e professor, além da USP, Prof Melfi também foi Professor Associado de quatro Universidades Francesas: Strasbourg, Poitiers, Aix-Marseille III e Toulon.
Em relação a Academias, é membro de várias: Academia Brasileira de Ciências, Academia de Ciências da América Latina, Academia de Ciências do Estado de São Paulo, e, na França, onde fez quase uma carreira paralela, pertence à Académie d’Agriculture de France e à Académie des Sciences d’Outre Mer; e é membro do Conseil Scientifique et Industriel du Technopôle de l´Environnement Arbois-Méditerranée. No Brasil, foi Diretor do Centro Brasileiro de Estudos da América Latina da Fundação Memorial da América Latina de 2007 a 2013 e desde 2002 também pertence ao Conselho Superior de Altos Estudos da FIESP, São Paulo.
Em sua trajetória foi também detentor de vários prêmios acadêmicos: no Brasil: Medalha de Prata de Geologia; Gran Cruz do Mérito Científico e, na França: Palmes Académique do Governo francês e Geocientista do ano de 2004 da TWAS (Academia de Ciências dos Países em Desenvolvimento).
Como Reitor (2001-2005) o Prof. Melfi definiu suas principais metas para as diferentes Pró- Reitorias.
No âmbito do Ensino nos diferentes cursos da USP propôs e realizou melhorias voltadas às condições de trabalho dos professores, relacionadas a infraestrutura, salas-ambiente, laboratórios, mídias interativas, assim como apoio pedagógico aos professores dos cursos de graduação, no geral.
No caso da meta para ampliar o número de vagas pela FUVEST, um dos projetos, muito discutido e laborioso foi alcançado, representado pela conclusão do campus USP Leste, com cursos diferenciados e uma inovadora organização curricular, coordenada pela profa. Miriam Krasilchik, também acadêmica desta APE.
No caso das Licenciaturas, além de promover aumento significativo em cursos noturnos, deu todo apoio às discussões que vinham ocorrendo a respeito da melhoria da formação de professores para Educação Básica. Tal apoio possibilitou finalizar adequadamente em sua gestão o Programa de Formação de Professores da USP, exigência da LDB, ainda vigente com modificações.
Mas, entre as metas do Prof Melfi, havia uma muito discutida e para a qual ele tinha um interesse particular: a de que se expandisse e melhorasse a interação da USP com a Educação Básica Pública Paulista, buscando especialmente, aumentar as oportunidades de ingresso na universidade de alunos desta rede pública de ensino.
Melfi, estava a par do trabalho que estava sendo realizado na área da Educação Básica Pública Paulista, durante a gestão da Profa. Rose Neubauer (governo Mário Covas), também desta Academia e cujo livro “Sem medo de mudanças – Política Educacional Paulista 1995-2002”, descreve com precisão esse período. Tal conhecimento a respeito desse trabalho muito facilitou as ações que foram propostas pela Pró-Reitoria de Graduação no período completo da gestão, todas elas muito discutidas com os diferentes órgãos da Secretaria de Estado da Educação.
Não me referindo às inúmeras ações realizadas na Pró-Reitoria de Graduação em comum acordo com a Secretaria de Estado da Educação durante a gestão do Prof. Melfi e que tiveram como foco a melhoria da educação básica, cito três que entendo como mais relevantes.
Este foi um Programa desenvolvido pela SEE-SP com a USP, e também UNESP e UNICAMP, para oferecer formação em nível superior de graduação, para professores efetivos do primeiro ciclo do Ensino Fundamental e de Educação Infantil, antecipando o cumprimento das exigências estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, relacionadas à necessidade de formação em nível superior para o exercício do magistério nos anos iniciais da Educação Básica. Foi também inédito neste programa a utilização de mídias interativas, possibilitando oferecer aulas por mio de videoconferências, coordenadas pela SEE-SP, com apoio da Vanzolini e atendendo 2400 professores.
A Secretaria Estadual da Educação e a Universidade de São Paulo – por intermédio da então FAFE (Fundação de Apoio à Faculdade de Educação), então presidida pela Profa. Anna Maria Pessoa de Carvalho, também desta Academia, delinearam e realizaram um programa de capacitação para professores PEB II, partindo de indicadores do desempenho dos estudantes nos diferentes componentes curriculares e da identificação de formas de ação, que atendessem às demandas estabelecidas como necessárias para melhoria da aprendizagem dos mesmos. O programa, com duração de nove meses, atendeu a mais de 1400 professores da Rede, das áreas de Língua Portuguesa, Matemática, Biologia, Física, Química, Geografia e História.
1ª. – Programa Pró-Universitário
A realização deste programa tornou-se possível pela parceria estabelecida entre a USP e a Secretaria de Educação do Governo do Estado de São Paulo visando ao atendimento do estudante do Ensino Médio, e à melhoria de sua formação geral para o acesso ao Ensino Superior. Foram oferecidas, em 2004, 1500 vagas destinadas aos estudantes do 3º ano médio da rede estadual pública, com estudos adicionais e complementares, coordenados por docentes da USP e por graduados (21 especialistas), auxiliados por monitores-estagiários (314). Coube, também, à equipe, o preparo do material didático, respeitadas as diversidades sociais e culturais da população-alvo. O critério de seleção de estudantes ao curso privilegiou o desempenho escolar dos candidatos e a sua frequência às aulas.
O programa, desenvolvido em módulos e em quatro meses, revelou-se como mecanismo de recuperação da autoestima de um segmento excluído da vivência acadêmica, aproximando-o do meio universitário e inserindo-o nos caminhos da profissionalização. Este programa, foi registrado pela Revista da Fundação Carlos Chagas, escrito pela profa. Eleni Mitrullis e por mim, com o objetivo de estimular propostas semelhantes.
2ª. – Programa Espaço de Orientação de Estudos
Semelhante ao anterior, este Programa objetivou uma ação integradora da escola pública à universidade, tendo como alvo a população socialmente desfavorecida, em especial a da área leste de São Paulo – onde estava sendo construído um novo Campus da USP. O Programa foi instalado no Núcleo de Apoio às Atividades Sociais, Culturais e de Extensão Universitária da USP – NASCE, sendo desenvolvido em seis meses, com 150 vagas ofertadas, dele participando monitores, graduandos de diferentes cursos da Universidade.
Com essa breve apresentação da vida profissional do Prof Melfi, tanto a relacionada aos resultados de sua atuação como Professor, como Pesquisador e, ainda, como Gestor de diferentes espaços de uma Universidade Pública, creio que ficam claros os motivos da sua indicação para uma cadeira nesta Academia Paulista de Educação.
Agradeço a todos, pela presença nesta cerimonia”.