Saudação ao Membro Honorário Rodolfo Oswaldo Konder.
Saudação ao Membro Honorário
Rodolfo Oswaldo Konder
pelo Acadêmico José Augusto Dias
Honrou-me o Presidente da Academia Paulista de Educação, o nobre Acadêmico João Gualberto de Carvalho Meneses, com a incumbência de saudar o novo Membro Honorário, Rodolfo Oswaldo Konder.
Faço-o com satisfação imensa, por tratar-se de alguém a que me sinto ligado por fortes laços de amizade e a quem muito admiro e respeito.
À guisa de apresentação vou procurar esboçar alguns traços do perfil deste intelectual notável, que ostenta um riquíssimo currículo.
Em primeiro lugar, Konder é
Jornalista.
Foi, durante algum tempo, colaborador permanente do jornal O Estado de São Paulo.
Cronista de grande elegância, tem seus trabalhos publicados em numerosas revistas: Realidade, Singular e Plural, Visão, Isto É, Afinal, Nova.
É membro do Conselho Deliberativo da ABI – Associação Brasileira de Imprensa.
Radialista
Atualmente é cronista diário da Rádio Cultura AM.
Por 4 anos foi editor-chefe e apresentador do programa televisivo Jornal da Cultura. Neste programa revelava-se um dedicado educador. Não se limitava a narrar os fatos – localizava-os no espaço e no tempo, esclarecendo, sempre que oportuno, as circunstâncias geográficas e históricas que os envolviam.
Atuou também no Rádio Canadá, de Montreal, quando ali esteve exilado, como se verá a seguir.
Cidadão do Mundo
Perseguido pela ditadura militar instaurada em 1964, foi exilado por duas vezes: A primeira, entre 1964 e 1965, no México e no Uruguai; a segunda, entre 1976 e 1978, no Canadá e nos Estados Unidos.
Desde então, tornou-se Cidadão do Mundo – primeiro, como exilado e depois, como jornalista, conferencista e enviado especial. Nestas atividades, esteve em grande número de países, de norte a sul, de oeste a leste. Foi presidente e vice-presidente da Seção Brasileira da Anistia Internacional, nos anos 80, quando participou de diversos congressos no exterior e cumpriu importantes missões diplomáticas. Reuniu uma preciosa experiência que tem sabido aproveitar na qualidade de escritor.
Escritor
Konder relata suas odisseias e também suas andanças pelo mundo em bem elaboradas crônicas, que têm alto valor como registro histórico de um conturbado período vivido em nosso país durante a ditadura. São histórias às vezes pungentes de torturas, perseguições, fugas, que certamente servirão aos historiadores que se propuserem a analisar o período. Há outras crônicas repassadas de nostalgia e ternura a respeito do tempo em que, ainda jovem, morava à rua Nascimento Silva, no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro. Escreve com muito carinho sobre suas namoradas de então, como também sobre seus companheiros de aventuras. Konder é um escritor erudito, inteligente, sensível e incrivelmente produtivo. Encanta-nos quase toda semana neste Conselho, presenteando-nos com seus livros e crônicas. Já publicou 18 livros, participou de 16 antologias, escreveu 9 prefácios e fez 5 traduções de livros. Traduziu também inumeráveis crônicas do escritor argentino Jorge Luis Borges, a quem devota uma admiração incomensurável. Pode-se dizer que Borges é seu guru, uma companhia constante com quem divide suas crônicas na Rádio Cultura. Creio que sua devoção por Borges, já falecido, fundamenta-se numa expressão do próprio Borges, que é a seguinte: “Somente é nosso aquilo que perdemos. Meu pai morreu e está sempre ao meu lado”.
Como escritor, integrou a diretoria da União Brasileira de Escritores durante seis anos e hoje atua como seu conselheiro.
Quero falar agora também de uma qualidade que Konder não confessa, provavelmente porque nem sequer se dá conta de que a possui. Konder é
Poeta
Não desses que se julgam poetas porque conseguem rimar amor com flor, ou porque, como dizia Tolstói, são capazes de enfileirar palavras como soldados. O bom poeta pode prescindir da artificialidade da métrica e da rima, como faz muitas vezes Manuel Bandeira, mas não pode dispensar a beleza das metáforas. No poema “Profundamente”, Bandeira termina assim:
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
– Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente
Não há métrica, não há rima, mas é poesia, porque contém uma comovente metáfora, que compara o sonho inocente da criança com o sono profundo dos que se foram.
Também você, Konder, imaginando que fazia prosa, escreveu o seguinte sobre a morte de Eduardo Ramos, filho de Graciliano Ramos (farei uma pausa a cada metáfora que encontrar):
“Num ardil de sonhos e palavras, vitórias e amarguras levaram-no às margens turvas deste rio crepuscular que nos arrasta para o insondável mergulho (…). Agora, separado de nós pelas florestas do tempo (…), em outra noite ainda mais poderosa e abundante do que a nossa (…), ele nos recoloca no grande anfiteatro, cenário de uma batalha permanente entre o amor e a morte. (…)”
Isto, Konder, não é prosa, isto é pura poesia!
Agente da Cultura
Tem uma importante atuação nessa área, irmã gêmea da educação. De janeiro de 1993 a dezembro de 2000, foi Secretário Municipal da Cultura de São Paulo. Além disso, foi diretor do Museu de Arte de São Paulo “Assis Chateaubriand” (MASP), fez parte do Conselho de Cultura da Hebraica e presidiu a Comissão Municipal para as Comemorações dos 500 Anos do Descobrimento do Brasil. Atualmente é Diretor Cultural da UniFMU.
Para terminar este breve e incompleto perfil do novo Membro Honorário da Academia Paulista de Educação, é preciso falar de uma qualidade que ele sabe que tem e que sabe honrar. Konder é
Educador
Tem uma ampla militância na área da educação. Foi professor de Jornalismo na FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado.
Dirigiu a FIAM – Faculdades Integradas Alcântara Machado.
É Conselheiro do IMAE – Instituto Metropolitano de Altos Estudos.
É membro do Conselho Municipal de Educação de São Paulo.
Logo após tomar posse neste Conselho, preocupou-se em promover a melhoria da qualidade da educação, propondo uma campanha de incentivo à leitura na rede municipal de ensino. Nesta mesma linha, tem produzido textos de grande valia a propósito de temas relevantes da vida nacional, que são oferecidos aos estudantes das escolas municipais. Dois destes textos já foram aprovados pelo Conselho Pleno e publicados no Diário Oficial do Município, com a recomendação de serem utilizados nas escolas.
Este é o educador que hoje recebe o diploma de Membro Honorário da Academia Paulista de Educação. A Academia sente-se honrada e engrandecida ao trazê-lo para seu convívio.
Konder, por tudo que é, você merece nossa congratulação e nosso aplauso.
E porque contamos com um amigo tão excelente, também nós nos sentimos merecedores de parabéns.