Palavras proferidas pelo Prof. Paulo Nathanael Pereira de Souza no IX Congresso Brasileiro de Gestão
Senhores Educadores:
Não passa de uma tautologia, de uma constatação óbvia que nossa geração participa de gigantescas mudanças – talvez as mais amplas e radicais de toda a história humana.
Das muitas e profundas revoluções que caracterizaram a modernidade, há que destacar a que se vem fazendo na gestão das organizações. Sejam elas públicas ou privadas. A premissa maior dessa mudança está no reconhecimento de que o insumo maior da prosperidade das empresas e das instituições localiza-se não mais nos elementos tradicionais do capital físico ou dos métodos da eficiência e, sim, no corpo social, que nelas atua. É a qualidade humana dos dirigentes e empregados que as direciona ao sucesso*. Como conseqüência, o estilo administrativo vai migrando das antigas estruturas verticais, em que só os chefes tinham importância, para as horizontais, em que se integram, como protagonistas na tomada de decisões, não só os dirigentes, mas também os empregados e colaboradores, mesmo os mais humildes. Todos têm sempre algo com que contribuir. Os antigos CEOS autoritários e auto-suficientes tiveram que ceder espaço às governanças corporativas, que passaram a dirigir com coletivos de especialistas destino das instituições e das empresas. O comando deixou de ser de pequenos ditadores, para ganhar líderes capazes de convencer, pela razão e pela autoridade do saber, todos os partners de uma organização a acompanhá-lo na melhor decisão para o futuro dos negócios. Os famosos organogramas morreram, com seus compartimentos quase sempre individualistas e limitativos, o que prevalece, agora, é a “intranet” sem segredos para todos os que atuam na busca de sucesso e de realização dos conjuntos humanos. Esse é o fenômeno que nos deve interessar nestes tempos de inovação, de crescimento, de globalização, de justiça, social e de busca da eficácia. É forçoso reconhecer que os velhos métodos do eu mando e você faz estão entrando para o lixo da história
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* Aliás, a própria pós graduação em gestão de Horvard acaba de sofrer uma mudança de rumos para deixar de produzir tecnocratas nas finanças e priorizar no curso os valores humanos do relacionamento em grupo.
E o que dizer dos reflexos dessas novas tendências na gestão universitária? No que diz respeito à administração universitária no Brasil o fulcro da questão está na dificuldade de nós educadores e dos governantes termos para implantar a autonomia acadêmica e administrativa de que trata a Constituição Federal, no seu artigo 207. Os educadores, (donos de escolas, reitores, corpos docentes e administrativos) pouco podem fazer ante a inexorabilidade da burocracia dos sistemas de ensino, obrigam-se a acomodar-se na inércia, esperando as regras dos órgãos superiores do governo; por sua vez, os policy-makers das esferas federal e estadual do setor, (ministros, secretários e conselheiros de educação) praticam um dia a dia quase sempre estiolante, que: repete o passado, curva-se à mesmice da legislação vigente, prefere a prevalência burocrática à destruição criativa de procedimentos e implantam avaliações sucessivas, que não visam propriamente à qualidade do ensino e, portanto, à criatividade, mas sim, a sua conformidade a referenciais inventados por dirigentes, cuja visão quase política e raramente pedagógica sobre educação muda de 4 em 4 anos, com a sucessão dos mandatos eleitorais.
O exercício da autonomia depende, antes de mais nada, de dois fatores básicos: da mudança postural dos dirigentes governamentais, no sentido de reciclar a alta administração federal e suas congêneres estaduais e municipais, para fazer delas órgãos assessores e apoiadores das iniciativas das universidades, cada qual com sua cultura própria, sem a preocupação do exercício de um generalizado e inútil poder de controle sobre todas elas, como se fossem clones umas das outras; e, de outro lado, depende também da mudança atitudinal “interna corporis”de reitores, professores e servidores administrativos, no sentido holístico de sua participação nas decisões a tomar e de implementa-las no dia a dia do funcionamento das instituições. Para tanto, mister se faz, tanto entre os dirigentes, como entre professores, alunos e os “stakeholders” da universidade, que os burocratas sejam substituídos por lideres e empreendedores, com coragem e autoridade para delegar mudanças, estimular inovações e capacitar a participação e o protagonismo de todos, desde o pós-doutor até o faxineiro, em favor da prosperidade institucional. É a troca dos administradores de organogramas, pela força coletiva de um corpo social competentemente orquestrado por lideres que produzem sinfonias de eficácia e de progresso. Essa é a minha visão pessoal do problema. Uma visão, aliás, que vem inspirando minha vida de educador, mesmo quando pertenci a órgãos federais de gestão educacional, como o CFE. Quando isto puder acontecer, a universidade brasileira e os dirigentes públicos dos sistemas de ensino terão entrado na modernidade e a autonomia de que fala a Constituição, como instrumento ideal da qualificação do processo ensino-aprendizagem, contará com as condições mínimas para a sua completa implantação.
Até que tais mudanças apareçam e amadureçam, será inútil falar-se por exemplo em reformas universitárias, eis que qualquer uma que se faça nas atuais regras de poder como já se viu com as já feitas, valerá mais como fachada, pois, na realidade tudo tende a permanecer como já era. Aliás, as reformas dos países sérios e as dos brincalhões, só diferem num aspecto: as primeiras modernizam as cousas e mantém os velhos nomes, enquanto que as segundas mudam todos os nomes e mantém intocadas as velhas cousas! Como dizia o príncipe de Nápoles ante as invasões liberais de Garibaldi, segundo Lampeduza, autor do romance “Il Egatopardo”: vamos sempre mudar as leis, para que os nossos privilégios possam continuar imutáveis…
Aproveito para cumprimentar nossa conferencista, Dra. Alma Harris, pela lição de futuro que nos deu na aula magna deste Congresso. E para agradecer não só a todos a atenção com que participam do conclave, bem como louvar a competência dos idealizadores do encontro: a Confenem, a Abmes, a Anaceu, a Abrafi e a Húmus.
Obrigado.
Palavras proferidas pelo Prof. Paulo Nathanael Pereira de Souza, no IX Congresso Brasileiro de Gestão Educacional & Congresso Internacional de Gestão Educacional no dia 23/03/2011. Hotel Maksoud Plaza.