Artigo – Os professores não sabem ensinar
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Por Francisco Carbonari
Com o título “Professores que não sabem ensinar”, o editorial do Estadão do último dia 13, reproduziu os dados da pesquisa feita pela ong Todos pela Educação que analisou concursos públicos para selecionar professores de Educação Básica no Brasil. A pesquisa foi realizada em 23 estados e 19 capitais, portanto uma amostragem bastante significativa.
O resultado da pesquisa (leia a íntegra aqui) foi que “apenas 3% das questões das provas avaliam o chamado “Conhecimento Pedagógico de Conteúdo” considerado essencial para a prática docente, por avaliar a aplicação do conteúdo em sala de aula.”
A conclusão da leitura dos dois textos é óbvia: a baixa valorização de conteúdos pedagógicos nos exames estaria entre as principais causas do ensino de má qualidade no Brasil, na medida em que selecionam mal os ingressantes.
Neste sentido, os textos apoiam a iniciativa do MEC de criação de uma Prova Nacional de Ingresso na carreira docente, como um importante instrumento para a melhoria das condições de ensino.
A complexidade do problema, no entanto, exige um exame mais aprofundado.
A análise da pesquisa, apesar de pertinente em sua crítica à falta de alinhamento entre os processos seletivos e a prática docente, parece ignorar um problema estrutural ainda mais relevante: o modelo de formação de professores especialistas no país.
No Brasil, a formação de professores especialistas — responsáveis por disciplinas como ciências, matemática e história — ocorre em cursos de bacharelado com habilitação para licenciatura. Nesse modelo, a formação prioriza o aprofundamento na área específica de conhecimento, enquanto os conteúdos pedagógicos e a prática docente acabam ocupando uma posição secundária. O viés acadêmico dos bacharelados se sobrepõe às necessidades práticas do ensino básico, gerando profissionais com domínio do conteúdo específico, mas pouca preparação para lidar com a diversidade e os desafios das salas de aula. O foco está voltado para a formação do matemático e não na do professor que ensinará matemática, por exemplo.
Esse contraste é evidente quando comparado a outros países. Em sistemas educacionais de destaque, como na Finlândia e na França, a formação de professores é concebida como um programa unificado, que integra o domínio do conteúdo, a pedagogia e a prática escolar. Essa abordagem prepara os educadores para enfrentar os desafios reais da docência, valorizando tanto o conhecimento específico quanto as habilidades pedagógicas.
Os concursos públicos, por sua natureza, avaliam conhecimentos acumulados durante a formação inicial. Portanto, a ênfase em conteúdos específicos e a limitada presença de questões pedagógicas nos exames refletem diretamente as lacunas dos cursos de formação. Criticar apenas a estrutura dos concursos desvia a atenção de uma questão central: a inadequação do modelo formativo brasileiro para as demandas do ensino básico.
Se os cursos de licenciatura oferecessem uma formação mais equilibrada entre conteúdo e prática pedagógica, os concursos naturalmente passariam a incorporar tais competências, respondendo às exigências de um novo perfil de professores.
A crítica do Todos pela Educação, embora relevante, subestima a dimensão do problema. A melhoria do ensino no Brasil exige uma abordagem que vá além da revisão de concursos e enfrente as deficiências estruturais na formação de professores especialistas.
Como é difícil enfrentar esse problema pois significa definir uma política clara dos cursos de licenciatura, estabelecer um ”locus” para a formação de professores, e enfrentar uma estrutura de ensino superior consolidada onde imperam os interesses corporativos, o mais fácil é fazer um concurso unificado em nível nacional que não agregará valor à capacidade de ensinar , e mascarará o real problema