Inglês: A Língua Acadêmica Imperial.
Inglês: A Língua Acadêmica Imperial
Flavio Fava de Moraes, 2011
A polifonia no planeta Terra é composta por centenas (milhares!) de tipos linguísticos
e, certamente, já foram ainda muito mais numerosos e impossíveis de quantificar.
A “língua” é o mecanismo mais eficaz, senão o único indispensável à transmissão do
pensamento e do conhecimento através da escrita ou oralidade.
O seu “poder imperial” (Altbach/2007) sempre refletiu uma correlação direta com o
status cívico, social e econômico das regiões mais desenvolvidas em suas respectivas
épocas. Sem dúvida, foi notório o predomínio internacional do latim no século 13 pela
igreja católica e pelos educadores escolares e universitários. O idioma alemão teve sua
relevância até o final da década de 1930 quando também a ciência se fez presente embora
também não fosse raro o uso do francês, russo e espanhol. E menos descartável ainda foi o
importante acervo publicado em língua árabe ou asiáticas. Contudo, a atualidade demonstra
total alteração no quadro internacional pois o inglês tornou-se “imperial” para não dizer
apenas “global”. E digno de nota é o fato de que mais de 50% da população universitária
mundial já é ensinada em língua inglesa (USA, UK, Austrália, Nova Zelândia, Paquistão,
África do Sul, Canadá, Índia, Caribe, etc…) além de cursos especiais nos demais países do
mundo. (Por ex.: Por razão demográfica e educacional, atualmente há mais estudantes de
inglês na China do que nos USA!) Aqui nosso foco visa mais as questões acadêmico-
científicas e seus impactos na ciência e na educação no Brasil onde alguns comentários são
necessários, a saber:
1. Reconhecer que a maioria das publicações originais de livros e periódicos é
divulgada em inglês e, quando dependentes de tradução surgem defasados no tempo.
2. Quando comparado o mesmo conteúdo publicado em inglês e também em outra língua
nativa a avaliação qualitativa é sempre superior para o texto em inglês!
3. Com a generalizada globalização, as oportunidades de empregabilidade e de salário,
notadamente para os fluentes em inglês com nível superior e/ou executivo, são maiores e
melhores.
4. Já há mais de “100 campi” de universidades de países de língua inglesa instalados
no exterior em países com outros idiomas. Gradativamente introduzem novos currículos, novas
culturas e deslocam modelos nacionais!
5. O conhecimento não divulgado em inglês pode ser ignorado e, portanto, com
repercussão internacional nula mesmo não desconsiderando eventual e necessária
importância local.
6. O domínio do inglês é reconhecidamente a maneira mais eficaz para a mobilidade
internacional de estudantes, docentes, profissionais, técnicos, administradores, etc…
7. O conhecimento do inglês não deve, entretanto, servir de homogenização linguística
em prejuízo da identidade do idioma e cultura nacionais.
8. Redigir em inglês é o principal obstáculo para os estrangeiros publicarem em
periódicos de alto impacto científico, muitas vezes independentemente do seu meritório
conteúdo (Matarese/2010). Esta dificuldade deve influenciar na submissão anual entre
trabalhos recebidos e recusados, respectivamente, no Science 15.000 900; no JAMA
6.000 500; Lancet 11.000 550.
Contudo, deve ser destacado que quanto mais idiomas forem conhecidos, tanto melhor
para o capital humano. Porém, em síntese, é fácil concluir que a realidade científico-
educacional (como em outros setores) está explícita no domínio crescente da língua inglesa
e pelo menos na atualidade é difícil profetizar qualquer mudança a curto ou médio prazo.
Já publicado no Jornal da Fundação Faculdade de Medicina/Março-2011.
Prof.Dr. Flavio Fava de Moraes
Diretor Geral da FFM e Professor Emérito do
Instituto de Ciências Biomédicas – USP
Acadêmico da Academia Paulista de Educação – Cadeira nº 1
Foi Reitor da USP e Diretor Científico da FAPESP