Haja Joaquins – Jornal Perfil Econômico – 19/05/2015
HAJA JOAQUINS
Paulo Nathanael Pereira de Souza, (cadeira 5).
Academia Paulista de Educação
Jornal Perfil Econômico, Ano XXIX, 19/5/2015
O Brasil, gravemente enfermo por força das três crises conjugadas, que sobre ele se abateram: a economia, a política e a moral, está desenvolvendo um esforço hercúleo para restabelecer a saúde. Para tanto, convocou-se o Dr. Joaquim Levy, emérito economista patrício que, segundo consta dispõe de algumas fórmulas mágicas capazes de tirar o país do brejo. Como todo tratamento cirúrgico, esse também deve ser doloroso e cheio de riscos para o paciente. Mas, ao que parece, não pode haver hesitação, eis que o que está em jogo é o próprio futuro da Nação. Daí porque se deve torcer, com todas as forças para que o Dr. Joaquim acerte na terapêutica e tire o país dessa enrascada em o meteram os que quiseram brincar com a ciência econômica e inventaram soluções experimentalistas, que não estavam no gibi.
Isso em relação à crise econômico-financeira. Quanto às outras duas, será preciso encontrar outros joaquins para examiná-las e oferecer soluções viáveis, como a reforma política, em que se fortaleça a democracia e se ponha um paradeiro à prática criminosa da compra de votos a troco de cargos públicos e de dinheiro do tesouro (vide operação Lava Jato!), ou a reforma dos costumes, com volta aos saudosos tempos em que, no Brasil, não se misturava o público com o privado, e o exercício dos mandatos eletivos nada tinha a ver com enriquecimento ilícito dos mandatários. O difícil será encontrar joaquins capazes de fazer com sucesso o enfrentamento dessas ciclópicas tarefas.
Todavia não há porque desanimar, eis que, de acordo com a História, o Brasil já enfrentou situações semelhantes e conseguiu superá-las com galhardia. É o caso, por exemplo, do que houve na passagem do século 19 para o 20, com a ascensão de Campos Salles à Presidência da República. Prudente de Moraes, que era um cidadão impoluto e a quem sucedeu Campos Salles, não entendia cousa alguma de ciência econômica e deixou as finanças nacionais em frangalhos (tudo agravado pela fratricida campanha de Canudos). Coube ao novo Presidente, empossado em 1898, investigar a fundo a situação, para descobrir que o país estava hipotecado aos bancos ingleses dos Rotschild e correndo o risco de execuções seguidas de dividas impagáveis. Não teve dúvidas, convocou um Joaquim disponível à época, o Murtinho, político cuiabano e mago das finanças, e viajou para Londres, onde foi hospedado pelos donos do banco. Com eles estudou soluções heroicas, de onde nasceu o tratado do “Fouding Loan”, segundo o qual, os Rotschild emprestariam ao Brasil quantia correspondente à dívida, enquanto que o governo retiraria de circulação o lixo do papel moeda emitido sem o lastro ouro, bem como cortaria fundo no orçamento, dele retirando todas as despesas adiáveis para os anos seguintes. Como garantia, o banco receberia todas as rendas geradas pela alfândega do Rio de Janeiro, que não eram nada desprezíveis. Murtinho como bom cirurgião, promoveu na área fiscal uma operação sem anestesia, e quase matou o doente, embora com isso tivesse salvado o Brasil da falência. O preço de tais sofrimentos recaiu por inteiro sobre Campos Salles, que perdeu a popularidade, tendo sido o presidente mais mal amado da história e, o que foi pior, empobrecido nos seus bens pessoais, todos sacrificados, para que a nação se restabelecesse.
Como se vê, não há por que desesperar face à crise que sobre nós vem desabando como um tsunami (aquele que alguém mais sábio chamou de marolinha!). Enquanto houver Joaquins disponíveis, o Brasil sobreviverá!