Discurso de Saudação ao Acadêmico José Augusto Dias
DISCURSO DE SAUDAÇÃO AO ACADÊMICO TITULAR
JOSÉ AUGUSTO DIAS
Pelo Acadêmico Titular João Gualberto De Carvalho Meneses
21/11/1989
Senhor Presidente e Senhores Acadêmicos Titulares,
Excelentíssimas Autoridades,
Meus Senhores e Minhas Senhoras.
Há muito tempo todos nós aguardávamos o dia em que o Professor José Augusto Dias tomaria posse nesta Academia.
Fui dos que mais insistentemente o convidava para candidatar-se ao preenchimento de uma das cadeiras deste sodalício. Ele sempre foi acadêmico “in pectore” de todos nós. Mas, a sua modéstia sempre surgia como óbice intransponível para a aceitação do convite. Finalmente, graças aos argumentos convincentes de outros confrades, especialmente, a habilidade de nosso Presidente, o Acadêmico Titular Samuel Pfromm Neto, ele rendeu-se e aqui o temos.
Coube-me a honra de propor a sua inscrição estatutária e, agora, eleito, sou novamente brindado com a escolha para, em nome da Academia Paulista de Educação, saudá-lo no momento de sua posse solene como Acadêmico Titular da Cadeira Nº 10, cujo Patrono é o Educador Antonio Ferreira de Almeida Junior.
Esta Academia tem como finalidade congregar educadores para debater temas especializados e oferecer à sociedade e aos governantes a visão da experiência e da ciência, e diagnósticos e propostas de soluções aos problemas educacionais.
A Academia desenvolve discretamente suas atividades, por isso não se encontra na evidência da grande imprensa.
Mas, a Academia pretende ser ouvida em seus pronunciamentos, o que não tem sido fácil, pois os temas que tem analisado nem sempre são do agrado dos poderosos.
Nestes últimos anos a Academia participou dos debates sobre os grandes temas educacionais nas constituintes federal e estadual para as quais enviou suas propostas; vem discutindo o projeto de lei de diretrizes e bases da educação nacional; e, mensalmente, também tem estudado assuntos escolares, como, por exemplo, o ensino da Matemática no 1º grau. Vem representando junto aos governantes sobre a necessidade de se rever a questão da formação de professores de 1º grau, especialmente, para as primeiras séries.
Em 1971, considerou inadequada a habilitação profissional de 2º grau para a formação de professores, como propunha a Lei Nº 5.692, e não se conformou com a extinção das escolas e cursos normais. Notadamente, o saudoso acadêmico Antonio D’Ávila em teses para congressos e em artigos de jornais e de revistas especializadas tratou do assunto.
A Academia conseguiu uma grande vitória ao ver aprovada a sua proposta na Constituição Paulista, re-instalando o curso Normal, incluída no Artigo 250, § 2º, que prescreve: “Além de outras modalidades que a lei vier a estabelecer no ensino médio, fica assegurada a especificidade do curso de formação de magistério para a pré-escola e das quatro primeiras séries do ensino fundamental, inclusive com formação de docentes para atuarem na educação de portadores de deficiências”.
Na verdade, todos nós gostaríamos que as atuais habilitações profissionais formassem professores como o curso normal que preparou o nosso acadêmico titular professor José Augusto Dias.
Creio que ele é modelo de professor. Os seus amigos sabem que a simplicidade é virtude indelével de seu nobre caráter. Virtude rara, em um mundo jactancioso. Mundo que facilmente confunde autoridade com arrogância e a humildade com a ignorância.
Com esse seu jeitão quieto, José Augusto foi estudante brilhante na Escola Normal de Santa Cruz do Rio Pardo, sua terra natal, e nos cursos de graduação e de pós-graduação de Pedagogia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.
José Augusto exerceu a docência no curso primário de grupos escolares. Conquistou por concurso os cargos de Professor do SENAI; de Técnico de Seleção de Pessoal, em 1º lugar, no Instituto de Administração da Faculdade de Economia e Administração da USP; de Diretor de Escola Secundária do Estado, também, em 1º lugar; e de Diretor do Colégio de Aplicação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, mais uma vez, em primeiro lugar. Neste último cargo notabilizou-se como eficiente executivo, liderando uma equipe de professores do mais alto nível intelectual e profissional e projetou, em pouco tempo, o Colégio de Aplicação ao conceito de melhor escola secundária da época.
Em 1963 conheci o José Augusto já exercendo a função de Instrutor da Cadeira de Administração Escolar e Educação Comparada da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. A nossa amizade foi espontânea e imediata. De minha parte, não havia como não admirar aquele colega sempre muito educado, muito atencioso, sempre pronto a orientar naquilo que fosse solicitado, com boa vontade e competência. Com sabedoria. Sem querer mandar, descomprometido com o poder. Expunha suas ideias, abertamente, sem a preocupação de impô-las ou de que elas prevalecessem. Quase com medo: com temor de ferir suscetibilidades.
Aprendi muito com o José Augusto naqueles vinte anos em que trabalhamos juntos. Foram proveitosos os seus conselhos, suas ponderações, sobretudo, os seus exemplos de colega competente, aplicado e sério no desempenho de suas tarefas.
No avanço dos estudos teóricos de Administração Escolar foram inestimáveis suas contribuições acadêmicas.
Durante muitos anos, semanalmente, o grupo de professores liderados pelos professores José Querino Ribeiro e Carlos Correa Mascaro se reunia em sessões de estudos. José Augusto sempre tinha à mão as novidades trazidas das leituras de revistas especializadas, de trechos traduzidos de obras e de artigos originais.
A continuidade dos estudos teóricos de Administração Escolar iniciados pelo Professor Querino teve com José Augusto papel fundamental. Com seus contatos mantidos com a Universidade de Chicago deu início a amplo relacionamento com a UCEA – University Council of Educational Administration – e inúmeras universidades americanas. Essas atividades foram responsáveis pelo prestígio nacional e internacional da Universidade de São Paulo como centro de estudos e pesquisas teóricas de Administração Escolar.
Com ele, começamos a desenvolver novas técnicas de pesquisa na área da Administração Escolar, atividade a que se dedicou intensamente e deixou centenas de alunos, dentre os quais dezenas de mestres e doutores, por ele orientados. Pessoalmente, sou-lhe muito grato por sua valiosa ajuda na elaboração da pesquisa sobre a função de diretores de escola, que fundamentou a minha tese de doutorado.
Ao lado de suas atividades na USP exerceu as funções de professor e coordenador do Curso de Administradores e Supervisores da Educação para a América Latina, realizado no ex-Centro Regional de Pesquisas Educacionais “Prof. Queiroz Filho”, do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP) do MEC, mantido em colaboração com a OEA – Organização dos Estados Americanos.
Nos últimos anos, o Professor José Augusto dedicou-se à implantação de computadores na Faculdade de Educação da USP. Tomou a iniciativa, sem grande alarde; treinou alunos e professores; conheceu e divulgou novos programas; e hoje lá está o LIFE – Laboratório de Informática da Faculdade de Educação, onde ainda trabalha.
O Acadêmico José Augusto também deixou sua marca no Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo, onde exerceu o cargo de Conselheiro por nove anos, por três mandatos. Ainda hoje ele é citado em inúmeros pareceres, de modo especial, sobre o funcionamento do ensino de 1º e 2º graus.
Sua presença na bibliografia de Administração Escolar demonstra, em livros e artigos publicados, exuberante produção acadêmica, devendo ser ressaltada a sua tese de doutoramento “O magistério secundário e a função de diretor”, paradigma de diversos outros trabalhos. Ainda recentemente,, publicou em “O Estado de São Paulo” artigo analisando dados estatísticos sobre alunos de 1º grau, no qual conclui com alerta à Nova República de que, a continuarem os dados escolares no mesmo ritmo atual, não se vislumbra a possibilidade de concretização do ensino fundamental universal, pelo contrário, é certo o contínuo crescimento do número de iletrados e analfabetos no Brasil.
Muito há o que enaltecer e contar sobre o nosso Acadêmico Professor José Augusto Dias. Suas viagens de estudos, suas participações em congressos e reuniões científicas, sua atuação na ANPAE – Associação Nacional de Profissionais de Administração da Educação –, fundada na Cadeira de Administração Escolar da Faculdade de Filosofia há quase trinta anos e hoje tão pouco estimada pelos colegas atraídos por novas siglas e outras sereias.
Creia, prezado José Augusto, todos os acadêmicos estão hoje muito felizes. Todos nós nos orgulhamos muito em tê-lo conosco. Nós sabemos que a sua presença e seu trabalho em muito engrandecerão a nossa querida Academia Paulista de Educação.
Em nome dos confrades, o abraço fraternal.
Muito obrigado a todos pela atenção.