Discurso de Saudação ao Acadêmico João Gualberto de Carvalho Meneses
DISCURSO DE SAUDAÇÃO AO ACADÊMICO TITULAR
JOÃO GUALBERTO DE CARVALHO MENESES
pelo Acadêmico Titular José Bueno de Azevedo Filho
21/10/1980
Engalana-se hoje a Academia Paulista de Educação com becas e condecorações para, com a pompa do estilo, acolher solenemente em seu grêmio mais um companheiro de lutas pelo engrandecimento e valorização do Ensino.
Suas portas se abrem de par em par saudando e deixando entrar mais um valoroso soldado da Educação, destemido como aquele “chevalier sans peur et sans réproche”.
Idealizada pelo inesquecível René de Oliveira Barbosa no modelo francês de 40 membros vitalícios, a Academia Paulista de Educação foi primeiramente presidida por Aquiles Archero Júnior e é agora seu Presidente efetivo Michel Pedro Sawaya, que tem se esmerado no afã de conduzir o nobre Sodalício com segurança e firmeza e graças aos quais a Academia sobreviveu a tormentoso mas glorioso decênio – tormentoso pelas naturais dificuldades que deve enfrentar uma Entidade como esta e glorioso por ter podido e sabido superá-las a contento.
Durante uma década, especialistas veteranos das lides do Ensino vêm sustentando galhardamente a existência da Academia Paulista de Educação com os seus estudos, discussões técnicas, planos e trabalhos, colocando-a acima de quaisquer outros interesses.
Eis que, ferida pela fatalidade da Morte (que a nós todos persegue) atingindo o Acadêmico Walther Barioni, a Academia Paulista de Educação preenche a sentida vaga da Cadeira nº 5 com a eleição do Professor João Gualberto de Carvalho Meneses para ocupar o lugar a que bem faz jus pela sua inata e desmedida vocação para as agruras (muitas) e delícias (nem tantas) do Magistério e prolongada atividade no campo do Ensino, que tanto esforço exige de quem a ele se entrega.
É um novo “Cadet de Gascogne” que vem dar-nos apoio e incentivo, enriquecendo o nosso quadro social.Filologicamente, “magister” é “o maior” e “minister”, “o menor”.
A verdadeira arte de saber ser “magister” é saber “o maior” ajustar-se às deficiências, conveniências e necessidades do “menor” (o discípulo), quase equiparando-se a ele, sem jamais querer alterar-se, para que o aluno encontre no mestre o exemplo a seguir e aprenda aquilo que lhe está sendo ensinado.
Como adverte Gibran, quem quiser ser professor de homens deve começar ensinando a si mesmo, antes de ensinar os outros e ensinar pelo exemplo antes de ensinar com palavras.
Difícil, muito difícil mesmo, é reduzir os próprios conhecimentos até a ponto de que possam ser compreendidos e assimilados pela inexperiência daquele que deve receber o ensinamento.
A humanidade do mestre é a chave e a melhor garantia para o seu sucesso no Magistério.
A “imortalidade” conferida pela Academia é o almejado prêmio que alcança quem dedicou toda a vida ao sagrado mister do sacerdócio docente.
Paulista de Santos como os Gusmões e os Andradas, diplomado pela tradicional Escola Normal de Franca em 1950, João Gualberto de Carvalho Meneses, ainda bastante moço, desde o ano anterior já lecionava como substituto no Ensino Primário na Franca do Imperador, dando início a brilhante carreira no Magistério Público Oficial do Estado, que nunca deslustrou, antes enobreceu pela sua dedicação e patriotismo.
Em 1950, trabalhou no Recenseamento Geral do Brasil, no município de Franca.
Em 1952, por concurso, conquistou uma Cadeira efetiva no Magistério Primário, sendo nomeado para Avaí e dois anos após removeu-se, por concurso, para a 1ª Escola Masculina de Vila Ema, na capital.
Em 1954 iniciou o Curso de Pedagogia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, e em 1955 e 1956 frequentou a Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Em 1956, inscreveu-se em Concurso de Títulos e Provas para o cargo de Diretor de Grupo Escolar Rural. Aprovado e classificado, escolheu o Grupo Escolar Rural da Fazenda Itaiquara, em Tapiratiba.
O benemérito Ensino Rural, que tantos e tão relevantes serviços prestou ao Estado de São Paulo, contava, ao tempo, como pontífice máximo o sempre lembrado Professor Tales Castanho de Andrade, o autor de “Saudade”, cujo nome quero aqui recordar e a quem rendo o meu preito da maior admiração e respeito.
Em janeiro de 1957 casou-se em São Paulo com uma colega, Haydée Dora Traldi.Permaneceu o novo Acadêmico em Tapiratiba de 1956 a 1959, quando se removeu, por concurso, para o Grupo Escolar Rural de Taubaté e, nesse mesmo ano, foi designado para exercer as funções de Inspetor do Ensino Rural, com sede em Bauru.Em 1960, licenciou-se em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Bauru.
É o seu “curriculum vitae” valorizado com numerosos e constantes Cursos de Especialização, de Extensão Universitária e de Pós-Graduação realizados a partir de 1951, em clara demonstração do seu inequívoco amor ao estudo e à meditação.Em 1962, foi nomeado Diretor Regional de Educação, com sede em Bauru.De 1963 a 1966, foi professor no Instituto de Educação “Fernão Dias Pais”, na capital.Passando a exercer atividades na Faculdade de Educação, da Universidade de São Paulo, em 1972, obteve o título de Doutor em Educação, com distinção.Em 1972 e 1973, foi Assessor Pedagógico do Comando da Academia de Polícia Militar do Barro Branco, tendo ministrado a disciplina Estudo de Problemas Brasileiros no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais.
Era o então o Coronel PM Milton de Almeida Pupo o Comandante desse tradicional e modelar Estabelecimento de Ensino destinado à formação dos Oficiais da nossa gloriosa e centenária Polícia Militar.Deixou tal posição para ocupar o cargo de Professor Titular e Chefe de Departamento de Educação na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Franca, de 1974 a 1976.
Continuando a sua promissora carreira de Professor Universitário, em março de 1977 conseguiu, aprovado também com distinção, a Livre-Docência em Administração Escolar na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.
Além de membro de Comissões Examinadoras de Concursos, participou de vários Congressos especializados no Brasil e no exterior, com apresentação de teses que lograram encômios e aplausos.
Em 1962 publicou “Legislação do Ensino Rural”, obra de inegável utilidade e de necessário manuseio, e a esse trabalho se seguiram “Direção de Grupos Escolares”, “Princípios e Métodos de Inspeção Escolar” e é coautor de outros trabalhos que tornam extensa a sua bibliografia, toda ela dedicada a assuntos educacionais.Apreciado conferencista, tem abordado temas dos mais oportunos.O problema dos tóxicos nas Escolas, cada vez mais premente, em 1971 já merecia a sua atenção.
Em duas ocasiões tive o prazer de conviver quase diuturnamente e privar com o Professor João Gualberto de Carvalho Meneses, aprendendo a apreciar-lhe os méritos e as virtudes sendo seu companheiro de trabalho: quando, estando eu no extinto Departamento de Educação onde fui assessor de 6 Diretores Gerais consecutivos, labutava ele no Ensino Rural, na Rua Antônio de Godói, 122 (Prédio Campanário). Nesse endereço passei agradavelmente grande parte da minha vida funcional porque ali também estive por largos anos comissionado como assistente do Diretor do também já extinto e transformado Instituto Geográfico e Geológico, da Secretaria da Agricultura.
De outra feita, embora por pouco tempo, quando ele esteve a serviço da Academia de Polícia Militar do Barro Branco, onde desde 1957 leciono História Geral e do Brasil. Em 1970 fiz a Escola Superior de Guerra e em 1971 o Curso Superior de Polícia. Ao retornar para a minha cátedra, encontrei como colega o Professor João Gualberto de Carvalho Meneses, colaborando para a feitura moral e intelectual dos nossos jovens Oficiais milicianos.
O Professor João Gualberto de Carvalho Meneses é conselheiro do Centro do Professorado Paulista e membro da Associação Nacional de Professores de Administração Escolar (da qual também já foi diretor), da Associação Brasileira de Educação, da União Paulista de Educação e da Sociedade Brasileira de Educação e Integração, havendo recebido desta a sua láurea de honra, a Medalha Ana Néri.
Suas atividades anteriores e presentes em associações da classe magisterial e o desusado interesse que tem demonstrado pela vida e funcionamento da Academia Paulista de Educação são o aval suficiente de que a participação do Professor João Gualberto de Carvalho Meneses em nossa companhia será das mais produtivas e a sua contribuição, das mais valiosas.
Pelo incondicional devotamento à causa da Juventude mito se assemelha João Gualberto de Carvalho Meneses ao seu patrono nesta Casa, João Köpke.
Nem seria preciso, Professor João Gualberto de Carvalho Meneses, que eu lhe repetisse a recomendação de São Paulo, o Apóstolo das Gentes, em carta a Timóteo: “Aconselhe, seja constante e ensine sempre”.
Presentemente Professor Assistente Doutor na Faculdade de Educação, da Universidade de São Paulo, pedagogo emérito, educador consumado e de merecido renome, respeitado por seus pares pelo saber e a prudência com que se conduz, com larga experiência em quase todos os ramos do Ensino – Primário, Secundário, Normal, Profissional, Militar e Superior – cabe-me dizer-lhe, em nome da Academia Paulista de Educação:
Acadêmico João Gualberto de Carvalho Meneses, seja bem-vindo para nossa alegria e proveito.