Discurso de Saudação à Acadêmica Laura de Souza Chauí
DISCURSO DE SAUDAÇÃO À ACADÊMICA TITULAR
LAURA DE SOUZA CHAUI
PELA ACADÊMICA TITULAR HERCÍLIA CASTILHO CARDOSO
19/11/1990
Minha querida amiga Professora Laura de Souza Chaui
A mútua simpatia, provocada pelos mesmos ideais, que nortearam nossas carreiras magisteriais de educadoras paulistas, estava fadada a transformar-se numa profunda amizade, na medida em que, mais de perto, a faina produtiva de exercício de nossas respectivas funções, na Liga do Professorado Católico de São Paulo, nos permitiu cadenciar em ritmo acelerado nossos passos e juntar nossas forças, visando levantar sempre mais alto a bandeira educacional que nossa vocação, nosso ideal e nossas atribuições específicas nos impunham inexoravelmente.
O nosso mútuo entusiasmo pelas atividades que, aprouve à Providência, nos coube dirigir, desenvolver e defender junto aos organismos governamentais, aos mestres que então dirigíamos, e aos alunos destes – objeto final dos nossos cuidados pedagógicos, cívicos, culturais e religiosos – fortificaram ainda mais os laços dessa amizade e o entrosamento dessas atividades.
Nesse mister, quantas e quantas vezes nos encontramos, na Secretaria da Educação, no Instituto de Educação Caetano de Campos, no Instituto de Educação Padre Anchieta (hoje EEPSG), nas Missas da Igreja do Pátio do Colégio e nas dependências deste, no Instituto Histórico e Geográfico, na
Câmara Municipal de São Paulo, além da Liga do Professorado Católico e do Centro do Professorado Paulista.
E na pauta dessas solenidades todas, sempre estiveram presentes os nossos ideais de educadoras, em comunhão perene com todos aqueles mestres, juristas, filósofos e psicólogos que pugnavam pela melhoria do ensino, por novas diretrizes pedagógicas, pela preservação da memória paulista, na homenagem póstuma aos heróis nacionais e a entrega de láureas dignificantes a mestres do passado e do presente, paradigmas que entraram para a História da educação brasileira e paulista.
Quantos estímulos vivenciamos, liderados pela Professora Laura, baseados nos movimentos promovidos pela Liga do Professorado Católico, através de febris atividades, já anteriormente exercidas pelas ilustres presidentes que a antecederam: nos últimos decênios, pelas Professoras Maria do Carmo Godoy Ramos e Corina de Castilho e Marcondes Cabral, ambas pertencentes ao quadro de fundadores desta Academia.
Desses movimentos salientamos:
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Comemoração anual do Jubileu de Ouro da diplomação de professores normalistas, das Escolas Normais Oficiais do Estado, hoje transformadas em Cursos do Magistério das Escolas de 1º e 2º graus.
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Os concursos literários anualmente realizados nas escolas oficiais de 1º e 2º graus, sob o tema “Padre José de Anchieta e sua atuação de mestre e catequista no Brasil”.
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O movimento realizado pela beatificação do 1º Mestre do Brasil, hoje Beato Padre José de Anchieta.
Tais assuntos, projetos e movimentos foram sempre a motivação ardente para trabalhos jornalísticos, editoriais e reflexões técnicas nos Jornais, em cujas colunas havia sempre um espaço aberto para a Jornalista Professora Laura de Souza Chaui.
Em voos cada vez mais altos, enveredamos pelos caminhos da cultura, nos quais minha dileta amiga já evidenciara seus conhecimentos e sua vivência, nas lindas e inesquecíveis tardes artísticas que, como presidente da Liga do Professorado Católico, tão bem soube promover, com a participação de inúmeros artistas, numa gama de valores culturais que incluía instrumentistas, cantores líricos e solistas, corais infantis e juvenis, além do Coral da própria Liga e de esplêndidos conferencistas e declamadores.
Por toda essa vivência magisterial e artística, a ninguém surpreendeu o fato da Professora Laura ser aclamada Vice-Presidente da Academia Feminina de Ciências, Letras e Artes de São Paulo, em fase de organização administrativa. E, tenho certeza, tal aclamação muito deve ter sensibilizado o seu marido, o conceituado jornalista Nicolau Alberto Chaui, sua filha, a Filósofa Dra. Marilena Chaui, ilustre e respeitada Secretária da Cultura do Município de São Paulo, e seu filho, o médico Doutor Alberto Francisco de Souza Chaui.
Porém, faltava alguma coisa para completar o “curriculum vitae” de Laura de Souza Chaui, como justo coroamento de uma vida dedicada às causas educacionais e culturais: ser introduzida no colendo sodalício da Academia Paulista de Educação, o que ora acontece nesta sessão solene, para alegria de todos nós, seus pares, que a recebemos como membro efetivo, titular da Cadeira nº 6, que tem como patrono Roldão Lopes de Barros e como antecessora a pranteada e saudosa Professora Maria do Carmo Godoy Ramos.
Para conhecimento dos presentes, tenho agora a satisfação de citar alguns tópicos do currículo de atividades magisteriais e culturais apresentado pela então candidata, e aprovado no respectivo processo de preenchimento de vagas da Academia Paulista de Educação, de acordo com seu Estatuto vigente.
A irradiação de sua brilhante carreira magisterial partiu de seus estudos iniciais no GE de Pindorama, onde cursou os quatro anos do 1º grau, seguidos dos quatro anos de 2º grau, realizados no Liceu Rio Branco de Catanduva. Seu Curso Normal foi realizado na Escola Normal Livre do Colégio Rio Branco de Catanduva, com habilitação específica para professora primária.
E da citação superficial de tal “curriculum”, vamos aos poucos nos imbuindo do imenso valor moral e técnico de sua portadora – uma valorosa professora oriunda de uma Escola Normal Livre do Interior, que nada ficava a desejar no seu confronto com as escolas oficiais do nosso Estado, pelos belos frutos magisteriais que produziu. E aquela recém-formada professorinha iniciou seu trabalho no rude interior paulista (Pindorama), então desprovido de conforto e distanciado do progresso, que até lá ainda não chegara, tendo a coragem e o altruísmo de enfrentar as consequentes fadigas e dificuldades do seu incipiente magistério, apenas como substituto do Grupo Escolar de Pindorama, situação na qual permaneceu por três meses, findos os quais foi designada professora estagiária da Escola Mista Rural da Fazenda Santa Olga, ainda no município de Pindorama, DE de Catanduva. Logo após, foi removida, por concurso, como professora efetiva. Em 1937, foi removida para o GE Paulo Lima Corrêa, em Catanduva, sendo deste removida, por permuta, para o GE de Catanduva, em 1942.
Sua vivência magisterial, aliada à sua vocação administrativa, deu-lhe condições de prestar concurso de provas e títulos para o cargo de Diretor de Escola, em 1950, o que lhe abriu novas portas para o exercício de suas atividades administrativas, iniciadas em 1941, quando foi designada para substituir o diretor do GE de Paraíso, DE de Catanduva.
Já em 1952, foi nomeada, por concurso, diretora do GE de Pedranópolis, em Fernandópolis, DE de São José do Rio Preto, do qual foi removida, por concurso, como diretora do GE de Vila Elisiário, DE de Catanduva, em 1954 e, deste, para a direção do GE de Vila Jacuí, São Miguel Paulista, 5ª DE da Capital, em 1956.
Em 1958, foi declarada à disposição do Instituto de Educação Caetano de Campos, na Capital, para frequentar por dois anos o Curso de Administração Escolar, o que ampliou os horizontes de sua atuação de diretora, no descortino de novas possibilidades funcionais. Em 1960, foi removida, por concurso, para a diretoria do GE Maria Zélia, no Belenzinho, da Capital, e, em 1962, para o GE Zuleica Ferreira da Costa Aguiar, Vila Diva, 5ª DE da Capital.
Porém, as atividades da Professora Laura de Souza Chaui não ficaram circunscritas à cátedra primária e à direção de estabelecimentos da espécie. Seu espírito empreendedor tinha necessidade de ampliar as áreas de sua atuação e acrescentar-lhes aquele “algo mais” que caracteriza a atuação dos eleitos, em qualquer uma das atividades laboriosas e progressistas. E aí começaram os seus outros cursos.
Assim, já em 1943, ela realizou um breve curso sobre erosão, proteção do solo e preparação de terreno para horta escolar, na Fazenda Experimental, em Pindorama, o que viria tornar sua atividade magisterial mais rica, dinâmica e agradável, permitindo a seus pequenos alunos o descortino de uma incursão no embora elementar terreno da agricultura, naquele ambiente propício e rústico.
Em 1951, licenciou-se para o ensino de Geografia Geral e do Brasil, nos 1º e 2º graus, cujos conhecimentos foram logo após seguidos da prática didática produtiva e especializada complementar.
Em 1956, realizou o curso de férias das disciplinas do currículo escolar dos 1º e 2º graus, e, em 1957, o curso de férias de Instituições Auxiliares da Escola, da Secretaria da Educação.
Em 1957, realizou também o curso “Utilização do Algodão”, da Secretaria da Agricultura de São Paulo, o que lhe descortinou novos panoramas de conhecimento.
Nos anos 58/60, realizou o Curso de Administração mantido pela Secretaria da Educação no Instituto de Educação Caetano de Campos, o que muito beneficiaria sua atuação de diretora de escolas de 1º e 2º graus.
Enriquecem o “curriculum vitae” da Professora Laura os cursos não regulares por ela ministrados ao longo de sua produtiva carreira:
– 1944 – aulas de Português no SENAC de Pindorama;
– 45/49 – admissão ao ginásio – Pindorama e Catanduva;
– 1949 – Geografia no Ginásio Pedro Além, em Catanduva;
– 1951 – Professora orientadora de alfabetização de adultos, em Paraíso e Pirangi, DE de Catanduva;
– 1954 – presidente de bancas examinadoras do Ciclo Básico;
– relatora do Grupo nº 3 do Encontro Regional na Formação de Recursos Humanos da Secretaria da Educação de São Paulo.
OUTRAS ATIVIDADES POR ELA EXERCIDAS:
– 1937 – secretária da Caixa Escolar no GE Paulo de Lima Corrêa, em Catanduva;
– 43/45 – regente do orfeão do GE de Pindorama, no qual comemorou pela primeira vez a Semana da Criança, com músicas, danças, desfiles e prêmios, com a participação da população da cidade. Começava, então, sua contribuição cultural à educação infantil;
– 1952 – através do Serviço de Prédios Escolares conseguiu a construção do prédio próprio e material escolar para o GE de Pedranópolis, em Fernandópolis;
– 1953 – instituiu a merenda escolar e instalou Caixa Escolar no GE de Pedranópolis;
– 52/53 – auxiliar de inspeção escolar na região de Fernandópolis;
– 1953 – encarregada do trabalho da LBA na região de Fernandópolis;
– 1954 – instalou com o auxílio da população a Biblioteca Infantil e Pedagógica do GE de Elisiário;
– 1956 – cooperou para a construção do GE Máximo de Moura Santos, antigo Vila Jacuí, em São Miguel Paulista, 4ª DE;
– 1956 – instalou e supervisionou 6 Escolas de Emergência, o que representou expressiva contribuição à educação;
– 1961 – instalou com os professores dois clubes escolares na região de São Miguel Paulista, 5ª DE;
– 1962 – inaugurou o prédio do GE Zuleica Ferreira da Costa Aguiar, Vila Diva, 5ª DE, ocasião em que fez entronizar, no hall de entrada, um grande Crucifixo. Patenteava, assim, o caráter religioso que caracterizou o seu magistério;
– 1963 – coordenou grupos-piloto dos trabalhos de Orientação Metodológica do Ensino da 5ª DE da Capital;
– 1963 – participou de um seminário na Fundação para o Livro do Cego, na Capital. Notamos aqui o seu espírito filantrópico;
– 70/71 – ministrou exercícios de fisioterapia em crianças irrecuperáveis da Cruz Verde, numa demonstração de caridade ativa;
– foi membro do Tribunal do Júri, por três vezes;
– promoveu homenagens ao Maestro Villa-Lobos e à pianista Guiomar Novaes. Aqui patenteava ainda sua preocupação cultural e o respeito aos mestres e expoentes nacionais e sua projeção internacional. – Quem de nós se esquecerá dessas duas solenidades?
SUA FILIAÇÃO A ENTIDADES E ASSOCIAÇÕES:
– 1933 – vice-Presidente do Grêmio Estudantil do Ginásio Rio Branco, em Catanduva, o que evidenciou desde cedo seu espírito social e de liderança;
– fundou o jornal O Estudante, no qual manteve acirrada polêmica com um colega sobre os direitos da mulher, evidenciando desde então sua vocação de jornalista e de juízo de classes;
– sócia do Centro do Professorado Paulista;
– sócia da Associação de Administradores Escolares;
– conselheira da Liga do Professorado Católico;
– foi secretária, vice-presidente e atualmente presidente reeleita da Liga do Professorado Católico, demonstrando no desempenho do seu cargo seu inconteste espírito de liderança e os direitos e deveres da classe a que pertence;
– 78/84 – Assistente de redação de O Anchieta, jornal da LPC, seguida de sua atuação, de 85 a 89, como editor-chefe, demonstrando, no exercício dessas funções, sua profícua vivência jornalística;
– 1989 – aclamada Vice-Presidente da Academia Feminina de Ciências, Letras e Artes (em formação), São Paulo, como merecido reconhecimento de seus méritos culturais;
– como jornalista registrada sob nº 9322/71, no Ministério do Trabalho, colaborou por seis anos, em coluna diária, em jornais da Capital;
– 72/89 – frequentou semanalmente um curso bíblico, que deu suporte especializado ao seu trabalho de evangelização;
– com um grupo, em 1960, fundou o jornal O Berro, no curso de Administração Escolar;
OBSERVAMOS QUE: Nos itens seguintes, a Professora Laura de Souza Chaui demonstrou cabalmente seus conhecimentos especializados, a argucia de suas reflexões específicas sobre assuntos que domina, e suas preocupações espirituais.
– escreveu e pronunciou palestras, aulas e conferências sobre assuntos educacionais e religiosos;
– aulas no Curso de Administração Escolar; “A pedagogia da personalidade” e “Fins da Educação”, recebendo menção honrosa;
– palestras sobre “A espiritualidade do leigo”, “A Igreja antes e depois do concílio Vaticano II”, “Liderança Cristã”, homenagem a Dom Duarte Leopoldo e Silva, solicitada para o Museu da Cúria Metropolitana de São Paulo;
– conferências sobre “A Família sob o aspecto sociológico e psicológico” e “Fenomenologia da Fé”.
HOMENAGENS RECEBIDAS PELA Professora LAURA:
– 1953 – homenageada por toda a cidade ao sair de Pedranópolis como diretora removida, quando lhe foi conferida Medalha de Prata;
– prêmio em dinheiro por alfabetizar 100% dos alunos, na Escola Mista Rural da Fazenda Santa Olga;
– menção honrosa por dois estudos: “Memória” e “A Vontade”, no curso de Administração Escolar;
– 1966 – uma placa de prata de alunos e professores do GE “Professora Zuleica Ferreira da Costa Aguiar”, ao se aposentar.
Tenho esperança de ter conseguido com esta despretensiosa retrospectiva sobre a vida funcional da Professora Laura de Souza Chaui, na qual pretendi focalizar a importância de sua atuação profissional e a projeção da mesma sobre todos aqueles que tiveram a felicidade de com ela conviver e aprender, tenha atingido o nosso escopo – já que neste momento tenho a honra de falar em nome da Academia Paulista de Educação: apresentar a todos os meus confrades e a todos os presentes a grande mestra que ora recepcionamos como Acadêmica Titular da Cadeira nº 6 deste sodalício, que tem como patrono o insigne educador Roldão Lopes de Barros.
E que a nova acadêmica continue, com a competência e o saber que caracterizaram a brilhante atuação de sua antecessora – a inesquecível Acadêmica Maria do Carmo Godoy Ramos – a contribuir cada vez mais para a grandeza da Educação Paulista e Brasileira.
Seja, pois, bem-vinda entre seus confrades, no seio de nossa querida APE, minha dileta amiga e companheira, Acadêmica Laura de Souza Chaui.