Discurso de Saudação à Acadêmica Amélia Americano Domingues de Castro.
DISCURSO DE SAUDAÇÃO À ACADÊMICA TITULAR
AMÉLIA AMERICANO DOMINGUES DE CASTRO
pela Acadêmica Titular Corina de Castilho e Marcondes Cabral
19/10/1976
Senhor Presidente
Digníssimas Autoridades
Senhoras
Senhores
A Academia Paulista de Educação reúne-se hoje, solene e festivamente, para acolher e empossar um novo titular: a Acadêmica Amélia Americano Franco Domingues de Castro. Para participar conosco deste júbilo, convidou amigos como Vossas Excelências Doutores Membros da Mesa e participantes deste auditório, no recinto esplêndido do Palácio Luso Jr. da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo.
A vaga que ora se preenche tem como Patrono o Padre Manoel da Nóbrega – dos primeiros tempos históricos e missionários da ainda Terra de Santa Cruz – na data de sua festa. A coincidência foi intencional. O patrono veio a uma terra nova para abrir caminhos novos às inteligências dos aborígines, à luz da fé cristã. Foi pioneiro e foi mestre. Trabalhar com as inteligências e os corações é trabalho de e para mestre. O primeiro titular desta cadeira, o Professor Doutor Reynaldo Kuntz Busch, sempre bem lembrado, foi médico e professor. Agora temos uma Mestra, prioritariamente Mestra, para mestres.
Senhora Acadêmica.
É com prazer que a saúdo, em nome de nossa Academia, como foi com prazer que lembrei seu nome para esta Cadeira. Não fui sua colega, nem sua aluna. Apenas um pouco “seu público”, atraída, inicialmente, nem sei quando, talvez por sua personalidade, por seu trato social, depois pelo muito ouvir de sua ação, depois lendo, não raro, seus pareceres no Conselho Estadual de Educação, escutando, acompanhando naturalmente a sua carreira, ouvindo-a em palestras nos mesmos ambientes e, agora, pretendendo a feliz ideia de trazê-la para a Academia, ideia que nem foi preciso defender, pois que foi aceita como uma consequência natural de sua carreira, tão logo desafogada de maiores compromissos anteriores. Entendi, e assim foi por todos considerado, ser o seu lugar aqui, o seu lugar certo.
Nossos campos de trabalho foram os extremos da Educação: do meu – o daqueles pequeninos que ensaiam os primeiros passos no mundo, ainda um todo e onde tudo é deles, venho saudar a Mestra dos que já definiram seu caminho e já sabem que o mundo está ávido por receber suas contribuições, para lhes entregar as responsabilidades que lhes cabem no implacável revezamento das gerações, no desenvolvimento e aprimoramento de todo o saber e conhecimento que lhes foi desvendado e que têm por inarredável levar mais longe e mais aprofundar. Os meus pequeninos – deslumbrados de conhecer o mundo, a vida, sem barreiras, com seus sentidos curiosos, que tudo querem ver, pegar, sentir e experimentar, abertos a todos os sons, ruídos e odores, com seus pensamentos e falas inocentes – querendo saber, falar, contar sua mensagem de ingênua sabedoria. Os seus, Professora, são os que já no entusiasmo da mocidade e no afã de se prepararem para assumir aquelas responsabilidades nas direções escolhidas, ainda precisam para seu amadurecimento que a mão amiga do mestre lhes dê o apoio nos primeiros voos e a crítica, também amiga no seu desenvolver, pois que a mensagem da sabedoria que a inteligência, a meditação e o trabalho conquistam e a experiência acumula, só mesmo o viver vivido do mestre pode dizer.
E nos encontramos, já adentrados em nossa jovem Academia, militantes de todos os aspectos da Educação, para com nossos confrades estudar, meditar e oferecer, à Comunidade e àqueles que têm o comando das instituições, nossa contribuição serena, nosso aplauso modesto mas verídico, nossa crítica de boa fé. Caso queiram aceitá-los
Senhoras e Senhores:
Recebi, para a apresentação de nossa Acadêmica, dois alentados volumes, “Memoriais”, todo um currículo universitário e suas realizações. Mais de uma centena de contribuições aqui, mais de cinquenta acolá, o Estado de São Paulo conhecido em quase todos os seus Institutos Isolados, o Brasil visitado em tantos quadrantes, o exterior também. As suas publicações, tantas, de demorada contagem. Então, para meus quinze minutos de saudação, apoiei-me em seus pequenos excertos, bem sucintos e gerais, respigando neles aqui e ali, alguma coisa para lembrar aos que não acompanharam de mais perto as diferentes fases de sua vida.
Predominam em sua carreira as atividades e estudos voltados para o preparo e atualização de professores em nível superior. Foram cursos, estágios, serviços em maior ou menor extensão, e nos vários níveis, e servindo aos objetivos dos setores aos quais se destinavam. Cuidado todo especial foi dado às atividades iniciadas e desenvolvidas no Colégio de Aplicação (com seu Serviço de Orientação Pedagógica), que dirigiu e que foram continuadas quando da criação de cursos de habilitação em supervisão escolar, em cursos de Pedagogia, visando ao preparo de especialistas capazes de, entre outras funções, coordenar e assessorar atividades docentes.
Considera crucial a questão do preparo de docentes e a ela se dedica em todas as manifestações de seu trabalho. Tem uma atividade de confiança pedagógica, ou seja, acredita que as ciências da Educação já têm possibilidade para induzir o progresso da prática. Não aceita a posição de uma “Didática neutra”, destituída de vínculos com os fins e objetivos da Educação, mas entende que é função destes que a ciência e a tecnologia educacional investigam e orientam a ação.
Dentro do seu espírito de valorização do aperfeiçoamento do pessoal docente, para ensino, pesquisa e prestação de serviços, próprios do ensino superior, aceitou a orientação de mais de cinquenta trabalhos de investigação, o mais das vezes para obtenção de títulos universitários, bem como participou de comissões examinadoras em concursos de doutoramento e mestrado, ou para obtenção de outros títulos acadêmicos. Objeto, ainda, de sua atenção, por semelhança de objetivos, foram os cursos de Didática do Ensino Superior, ainda muito recentes no campo da Educação.
Outro aspecto muito significativo de sua carreira são as contribuições que seus trabalhos procuram dar à constituição de uma Didática Científica, apoiada em dados experimentais e em modelos teóricos. Em face dos problemas da prática, dos recursos e técnicas didáticos, não dispensa, porque entende fundamental, a busca de duas questões bem nítidas, e tantas vezes lamentavelmente esquecidas: o por quê e o para quê, antes da discussão do como fazer. Aí, a busca dos fundamentos teóricos se torna uma constante.
Perseguindo sempre seu objetivo de aproximar sempre mais a Psicologia da Educação, encontrou no enfoque piagetiano as justificativas teóricas de pontos de vista referentes aos fins e aos meios em Educação (Pública, em consequência o livro “Piaget e a Didática”). Em seus cursos de mais alto nível, procura mesmo examinar os problemas da redefinição da própria Didática, a matéria que mais a preocupa, através do refinamento dos conceitos utilizados e da pesquisa e aplicação de modelos adequados aos objetivos a atingir.
Ainda, e sempre, acreditando que educação é trabalho de equipe, procura sempre, nos grupos sob sua responsabilidade, acentuar as Atitudes de Cooperação.
Outra área em que foi levada a colaborar foi o Conselho Estadual Educação, onde, durante nove anos, sua atuação foi marcada pela dedicação aos problemas da estruturação de cursos de licenciatura em Pedagogia. Seus mais de cem pareceres e indicações demonstram a dupla preocupação: manter o nível dos cursos de acordo com a expectativa paulista e respeitar as diferenças impostas pelas possibilidades e vocações dos Institutos de ensino superior. Convites desses Institutos – para conferências, simpósios e bancas examinadoras – levaram a conhecê-los quase todos, e a manifestar-lhes aquela confiança animadora em seus destinos, e seu entusiasmo pelo trabalho de interiorização da educação e da cultura em nosso Estado.
Finalmente, depois de repassar algumas de suas ideias e realizações, posso dizer algo sobre sua vida e sobre sua formação cultural, alicerces de seu renome e de seus felizes desempenhos. Amélia Americano Franco nasceu no Rio de Janeiro, de onde veio aos dez anos, com o curso primário feito e na condição de filha única do Senhor Severino Ribeiro Franco, gaúcho, oficial do Exército Nacional, e da Senhora Alice Americano Franco, paulista do Vale do Paraíba, com ramificação mineira. Por feliz matrimônio com o Doutor Luiz Domingues de Castro, ilustre advogado e homem público de nossa Capital, tem três filhos: uma psicóloga, uma arquiteta e um arquiteto, que já lhe deram (as duas filhas) quatro netos já empossados nas funções e nos direitos de primeiros personagens no cenário da vida familiar.
Terminou seu curso de nível médio aos 17 anos, no Instituto de Educação Caetano de Campos e aos 20 recebia os títulos de bacharel e de licenciada em Geografia e História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Dez anos depois defendeu tese sobre “Princípios do Método no Ensino da História” e conquistou o título de Doutor em Educação pela mesma Faculdade, já então frequentando o curso de Filosofia, sempre na USP, concluindo bacharelado e licenciatura em 1953. Novos dez anos, em 1963, defendeu a tese “Bases para uma Didática do Estudo”, para Livre-Docência da Cadeira de Metodologia Geral do Ensino, da mesma Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP.
Desde 1941, quando terminou seu curso de Geografia e História, já se iniciou nas atividades docentes da FFCL, como Assistente substituta da cadeira de Didática Geral e Especial, percorrendo todos os escalões e preenchendo todas as exigências para o desempenho do magistério na Universidade de São Paulo, sempre nos campos da Metodologia Geral e Especial, até sua aposentadoria, ocorrida recentemente.
No Conselho Estadual de Educação, militou de 1967 a 1974, representando-o em comissões especiais, junto à Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, junto ao Ministério da Educação, e em reuniões conjuntas dos Conselhos Estaduais de Educação, para estudos, planejamentos, inclusive para o exame de problemas relativos à implantação da Lei 5692, que ora rege a educação em nosso país.
Acadêmica Amélia Americano Franco Domingues de Castro:
Liberada agora dos laços administrativos de sua carreira profissional, desejamos e esperamos que encontre nesta Academia campo fértil para continuar, em novas florações e frutificações, a enriquecer a cultura educacional do nosso Brasil e de nosso São Paulo.
Com estes votos a recebemos na Academia Paulista de Educação. Seja bem-vinda e traga-nos também a satisfação de sua companhia.