Cinco regras para ser bom de papo 3 – site UOL – 24 fevereiro 2015
Artigo site UOL – 24/02/2015
– Sou ruinzinho de conversa.
– Ruinzinho como?
– Ah, ninguém presta atenção no que eu falo.
– E o que você fala é interessante? Você ouviria alguém que fala como você?
– Sei lá. Acho que todo mundo conversa do mesmo jeito. Nunca pensei nisso.
– Então, vamos ver se você segue as cinco regras básicas da boa conversa.
– Ué, e desde quando conversa tem cinco regras básicas?
– Primeira. Você sabe ouvir?
– Ah, para com isso. Ouvir é só…ouvir. Às vezes não presto atenção, mas ouço.
– Pois é, ouvir não é só ficar olhando para o interlocutor com cara de coruja. É preciso dar sinais de que você acompanha a conversa. Acenar com a cabeça, com leves movimentos da sobrancelha, para mostrar surpresa, solidariedade, expectativa.
Além disso, use palavras e expressões de estímulo como, por exemplo, “é mesmo?”, “e aí?, “não acredito”. Cuidado também para não demonstrar que não vê a hora que o outro termine de falar para você dizer o que deseja.
– Entendi. Estou reprovado na primeira regra. E a segunda?
– Segunda. Você sabe contar histórias curtas e interessantes?
– Posso garantir com toda certeza: não.
– Comece a colecionar histórias curtas e interessantes. Faça um caderninho para poder se lembrar sempre. Toda vez que ouvir uma boa história, anote. E conte logo em seguida para alguém. Assim, além de aperfeiçoar a narrativa, será mais fácil guardar.
Fique antenado nos assuntos que nos rodeiam: música, literatura, arte, turismo, cinema, esportes. São temas que geralmente agradam. Atenção para não falar demais – gente prolixa é insuportável. Também não queira sair por aí dando aula, como se fosse um professor. Ninguém aguenta gente sabichona.
– Isso dá para fazer. E a terceira?
– Terceira. Você é espirituoso, bem-humorado?
– Às vezes. Tenho preguiça de fazer brincadeiras.
– Não precisa e nem deve bancar o bobo da corte. Mas uma conversa interessante deve ser regada com a leveza das tiradas espirituosas. Vale a pena treinar. Funciona principalmente a autogozação.
Algumas pessoas ficam sem graça e até chatas quando tentam brincar. Se depois de algumas experiências, perceber que este é o seu caso, é melhor não arriscar. Deixe as gracinhas de lado.
– Vou tentar. Acho que posso ser um pouco mais leve e bem-humorado.
– Quarta. Você sabe fazer perguntas?
– E desde quando pergunta tem jeito certo de fazer?
– É a segunda regra mais importante da boa conversa. Quem não sabe perguntar, não consegue manter conversas interessantes. Há dois tipos de perguntas: as fechadas e as abertas. Fazemos perguntas fechadas para iniciar uma conversa ou para mudar o rumo do assunto. Por exemplo, Quem? O Zé Roberto. Quando? No começo do ano. Onde? No restaurante vegetariano. Observe como as perguntas fechadas motivam a respostas rápidas e objetivas.
– E as perguntas abertas?
– As perguntas abertas instigam o interlocutor a falar mais. Por exemplo, Como? Por quê? De que maneira? Note que as perguntas abertas não permitem apenas respostas de sim ou não, de certo ou errado. Elas forçam a pessoa a elaborar mais o raciocínio.
– E a regra mais importante? Você disse que essa última era a segunda mais importante.
– Opa, criei expectativa em você. Falando nisso, eu não mencionei como uma das regras, mas criar expectativa é um recurso que você também pode acrescentar no pacote.
– Sim, você aguçou minha curiosidade, qual é a regra mais importante?
– Quinta. Tenha interesse verdadeiro pelas pessoas.
Por mais que você interprete, finja gostar ou se interessar, chega um momento em que a pessoa percebe que não está sendo autêntico. Descobre que tenta ser politicão. Aí a conversa boa acabou. Só vão falar com você se quiserem algum tipo de vantagem. Para se relacionar bem é preciso ter esse interesse genuíno, sem fingimentos.
– Tem razão. Seguir essas regras não parece ser tão difícil. Vou praticar.