Artigo – Roberto Rodrigues e o amor à terra, às pessoas e ao País
por Ricardo Viveiros.
A trajetória da agropecuária brasileira, uma das mais avançadas do mundo, é rica em personagens, homens e mulheres, que contribuíram para o seu desenvolvimento, seja trabalhando a terra e/ou propondo e realizando políticas públicas, nas entidades de classe, no Parlamento ou no governo. Um dos grandes protagonistas dessa história é Roberto Rodrigues, uma das pessoas que mais promoveram o progresso do setor, sua modernização, ganhos de produtividade e foco na produção social e ambientalmente sustentável.
Já o conhecia bem, mas pude entender e saber mais sobre o seu trabalho, sua personalidade e o alcance de suas realizações e teses, ao ter o privilégio de escrever sua biografia: Roberto Rodrigues – O Semeador – Quem planta colhe (Editora Disrup Talks). Ele nasceu no interior de São Paulo, filho de agrônomo brilhante, pesquisador de citricultura e idealizador de uma das maiores e mais modernas usinas de açúcar e álcool do Brasil, a São Martinho, e de uma senhora refinada, amante das artes e apreciadora da beleza. Assim ele cresceu, habitando com equilíbrio dois universos: o da técnica e o da imaginação.
Formado agrônomo na reconhecida Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo, Rodrigues inovou a Fazenda Santa Izabel, de propriedade da família. Foi pioneiro no cultivo de soja na região de Guariba e Ribeirão Preto e da sua rotação com a cana-de-açúcar. Tornou-se liderança e ajudou a construir uma rede cooperativista, incluindo o crédito rural, que alcança diversos segmentos produtivos de todo o Brasil. Como articulador da relevante causa, foi ao coração da Assembleia Nacional Constituinte de 1987. Mobilizou atores, estruturou propostas e colocou o setor na Carta Magna. Também presidiu a Aliança Cooperativa Internacional.
Embora avesso ao exercício da política, Rodrigues aceitou o convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro mandato, para o cargo de ministro da Agricultura e Pecuária. E fez a diferença. Entre 2003 e 2006, deixou um legado inestimável ao País, que continua influenciando o êxito e o avanço do setor. No livro, relato a jornada, conquistas, bastidores e muitos meandros que permearam sua atuação na pasta, até agora desconhecidos.
Rodrigues também foi Secretário de Agricultura e do Abastecimento do Estado de São Paulo. É membro da Academia Nacional de Agricultura, professor emérito e Coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em todos os lugares, sempre manifestou a preocupação com o meio ambiente, a função social do agro e sua contribuição indispensável para a segurança alimentar e a luta contra as mudanças climáticas.
Essa visão lúcida marca sua saga, inclusive como ministro de Estado. Os reais motivos pelos quais deixou o cargo, contados em detalhes no livro, surpreenderão muita gente. Enquanto os leitores não conhecem esse episódio, relato aqui um trecho do primoroso discurso que proferiu em sua despedida do governo, em 3 de junho de 2006, no Palácio do Planalto, em Brasília:
— Amo a agricultura, profunda e reverentemente. Emociona-me a alvura imaculada dos algodoais em colheita, o rubro-verde dos cafezais em cereja, o galeio mágico que o vento provoca nos canaviais verdejantes ou nos dourados trigais. Encanta-me o cheiro adocicado das espigas dos milharais ou os laranjais carregados, as flores das fruteiras polinizadas pelas abelhas operárias. Orgulha-me o progressista ronco das colhedeiras nos sojais e arrozais maduros. Admiro os capinzais cultivados, alimentando rebanhos leiteiros e de sadia carne. Minha alma se desvanece a cada vez que vejo uma semente germinando no milagre da preservação das espécies. E respeito, admiro e venero os milhões de homens e mulheres que, dia após dia, ano após ano, em comunhão sublime com a natureza e com o Criador, plantam e colhem tudo o que garante a perenização da existência.
O antológico pronunciamento explica por que Roberto Rodrigues — O Semeador não é um livro sobre política e economia. É a biografia de um ser humano com visão holística, impulsionado pelo amor à terra, às pessoas, à família e ao Brasil.
Tal sentimento, que continua motivando seu trabalho, o conduziu ao governo, à defesa do bem comum nas cooperativas no Brasil e no Mundo, à luta pelo crescimento socioeconômico sustentável, à cátedra da Unesp e a tantas outras missões. Por tudo isso, afirmo que sua história só faz sentido quando sabemos onde o amor nasceu, foi e é nutrido. Quem ler verá!
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Ricardo Viveiros é Titular da Cadeira 30 da Academia Paulista de Educação. Jornalista, professor e escritor, é doutor em Educação, Arte e História da Cultura; autor, entre outros livros, de A Vila que Descobriu o Brasil (Geração), Justiça Seja Feita (Sesi-SP) e Memórias de um Tempo Obscuro (Contexto)