Artigo – Fernanda Torres e o Brasil
por Hubert Alquéres
Poucos artistas brasileiros podem ostentar uma trajetória tão sólida e multifacetada como Fernanda Torres. A premiação do Globo de Ouro por sua atuação no filme de Walter Salles, “Ainda estamos aqui”, é mais um capítulo em uma carreira marcada por excelência e inovação.
Fernanda, além de atriz consagrada, é uma escritora respeitada, autora de romances e crônicas que reforçam sua capacidade de captar, com profundidade e humor, os dramas e contradições da vida contemporânea. Seu livro “Fim” é um belo exemplo disto.
Desde o início Fernanda mostrou que herdou o talento de sua mãe, a lendária Fernanda Montenegro, mas construiu uma identidade própria, marcante e inconfundível. Sua versatilidade atravessa o drama e a comédia com maestria. Quem não se lembra da irreverência em “Os Normais” ou de sua atuação divertidíssima em “Tapas e Beijos”?
Essa vitória no Globo de Ouro também nos faz lembrar de outro marco de sua carreira: a consagração no Festival de Cinema de Cannes, em 1986, quando ganhou o prêmio de Melhor Atriz por sua atuação em “Eu Sei Que Vou Te Amar”, sob a direção de Arnaldo Jabor. Na época, aos 21 anos de idade, Fernanda impressionou o júri internacional com sua entrega e intensidade. Naquela época, era professor de Física do Colégio Bandeirantes e também coordenava as atividades culturais da escola. Lembro da sessão do filme, lotada, exclusiva para os alunos do Colégio, que promovemos no então cine Gazeta da av. Paulista. Era um filme intimista sobre o amor, o desejo, o tempo e a comunicação entre um casal. Todos que estavam ali adoraram!
O reconhecimento veio cedo, mas Fernanda soube manter-se firme na busca por melhorar sempre. Sua trajetória dialoga com outros grandes nomes da nossa geração, como Cazuza e tantos artistas, cineastas, educadores, escritores ou jornalistas que, além de brilharem em seus campos, mostraram um engajamento genuíno com as questões do país. Fernanda, sempre crítica e lúcida, não se afastou das discussões relevantes, mas fez isso sem perder o otimismo, a alegria e a esperança, qualidades tão essenciais em tempos desafiadores.
Neste domingo, ao vê-la ser premiada com tudo isso estampado no seu rosto e em seu discurso, não celebramos apenas uma atuação brilhante, num filme forte e necessário, mas toda uma carreira dedicada à arte, à cultura e ao Brasil. Fernanda Torres é um símbolo do que há de melhor em nossa geração: talento, comprometimento e uma visão de mundo que inspira e transforma. Uma vitória merecida, que nos enche de orgulho!