Alquéres faz saudação à nova Acadêmica, Eliana Amaral
Discurso do Acadêmico Hubert Alquéres, presidente da Academia Paulista de Educação e Titular da Cadeira nº 29 em saudação à professora dra Eliana Amaral, por ocasião de sua posse como Acadêmica Titular da Cadeira nº 23 da Academia Paulista de Educação. A posse ocorreu em 22 de novembro de 2023, na sala de reuniões do Conselho Universitário da Unicamp com a presença do Magnífico Reitor da Universidade e do Presidente do Conselho Estadual de Educação:
“Senhoras e senhores
Falar de Eliana Amaral é falar de uma amiga querida, que conheci em 2017 e em pouco tempo se tornou importante com muitas afinidades, entrosamento e conexão. Entre nossas paixões está a educação. E Eliana é um educadora com sólida formação, que faz das boas causas e lutas a razão de sua existência.
Eliana irradia vida.
Essa mulher – forte, curiosa, apaixonada pelo ser humano – é filha típica de uma das melhores universidades do Brasil, a UNICAMP, hoje tão bem representada neste evento por seu Reitor, diretores de unidades e diversos membros da sua comunidade.
Nesse centro de excelência, que tanto tem contribuído para a produção científica e para o próprio desenvolvimento do país, Eliana construiu uma carreira sólida, tendo chegado aos mais altos postos da instituição que serve com amor e compromisso. Admirada e respeitada pela comunidade acadêmica projetou-se para além das fronteiras da universidade. Fez da medicina, em especial da obstetrícia, um sacerdócio, consagrando sua vida ao exercício de sua profissão.
Eliana Amaral é isso: cientista, educadora e, sobretudo, um vulcão de sentimentos nobres que contagia a todos que a conhecem de perto.
Os valores humanistas de sua personalidade vêm de berço. Eliana nos reporta ao saudoso Francisco Amaral, um democrata que marcou a história de Campinas, como prefeito da cidade por duas vezes. A trajetória de Chico Amaral esteve umbilicada por um dos momentos mais dramáticos de nossa história. Como deputado federal por seis mandatos, viveu os duros anos de chumbo dos tempos da ditadura militar. Pertenceu a uma geração de políticos da estatura de Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Tancredo Neves, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, verdadeiros artesãos da redemocratização do país. Francisco Amaral fez parte do grupo Autênticos do MDB e seu legado é narrado no livro organizado por sua filha Eliana, “Bilhete verde para a democracia – Chico Amaral, uma biografia”.
Com seu pai, aprendeu a valorizar a liberdade, a justiça social e o diálogo permanente como busca de consensos. Esta história de aprendizado também se fez com sua mãe, em especial no período em que Dona Marília foi Secretária Municipal de Assistência Social, quando dedicou-se de corpo e alma a melhorar as condições de vida da parcela mais vulnerável da população campineira. O cuidar das pessoas foi uma missão que aprendeu, e herdou, de ambos: sua mãe e seu pai.
E nada mais engrandecedor do que trazer ao mundo novas vidas. Ainda adolescente decidiu que queria trabalhar com reprodução humana e descobriu a obstetrícia. Sempre considerou o nascimento de uma criança algo de beleza indescritível, divino.
Tornou-se médica porque queria ser obstetra. Isso numa época em que não havia médicos na família. Eliana fez história e deu exemplo, hoje outros familiares, das novas gerações, se formaram em Medicina.
E nossa mais nova acadêmica tem uma vasta folha de serviços prestados à educação e à medicina brasileiras. É dona de um currículo invejável e denso. É detentora de uma trajetória sempre voltada para o desbravamento de novas áreas de atuação. Como ela mesmo se define, tem sido, ao longo de sua vida profissional, uma “aprendedora crítica e reflexiva”.
Membro do Conselho Estadual da Educação desde 2017, quando nos conhecemos, assumiu, ao longo de sua vida profissional inúmeras atividades de ensino e gestão, dentro e fora da universidade. E atuou em organizações importantes no Brasil e no mundo, e ainda atua, na Organização Mundial da Saúde.
Em toda a sua carreira, trabalhou com programas de saúde e com políticas públicas. É, portanto, ativa nas Comissões Técnicas dos Parlamentos e Ministérios que se dedicam a estas áreas no país. Ela sempre apostou no trabalho colaborativo. Não consegue fazer as coisas de maneira que não seja participativa. Sabe que emerge um grande poder de transformação quando existe o envolvimento das pessoas. Como médica, isso é muito importante no tratamento e é preciso ter esta sensibilidade. É cuidadora, por natureza. E as pessoas sempre podem esperar dela diálogo e empatia.
Eliana é polivalente. Tem uma capacidade imensa de abraçar diversas causas e estar em várias trincheiras. Seu espírito combativo a levou a enfrentar a desigualdade de gênero, que também se manifesta no mundo acadêmico. Hoje ela integra a Rede de Acadêmicas da Unicamp que reúne 210 mulheres docentes e pesquisadoras. Recentemente a Rede produziu um Guia para enfrentar desigualdade de gênero na Academia.
Difícil dizer qual a maior virtude de Eliana. Se me visse obrigado a escolher uma, diria que é a sua imensa capacidade de se conectar às pessoas, de estabelecer laços com uma rede imensa de amigas e amigos espalhados pelos quatro cantos de nosso planeta. Essa mulher que ama o basquete, a praia, viagens e até corrida de carros sprint race, é ativa nas redes sociais e fã de carteirinha de sua filha Mari, atriz e cantora de musicais, de quem não perde um só espetáculo.
Para dar a verdadeira dimensão desse grande ser humano, dou um depoimento pessoal. No final da semana passada, no meio do feriado, liguei para Eliana às onze horas da noite. Pasmem, ela estava de plantão envolvida naquele momento com o parto de duas crianças que vieram ao mundo sob sua orientação, com a ajuda de suas mãos, junto aos residentes e estudantes de 5º ano, no Hospital da Mulher da Unicamp.
Essa é Eliana Amaral, que agora temos o privilégio de conviver como mais nova membro da Academia Paulista da Educação.
Seja muito bem-vinda, Eliana.
Você é um patrimônio da Educação e um ser humano de astral leve e prazeroso. Sentimos orgulho de tê-la em nosso convívio.”