Cordão homenageado em jornal de Avaré
Jornal A Comarca do município de Avaré publicou texto de Gesiel Júnior sobre a trajetória do Acadêmico Francisco Cordão com o título “O avareense que modernizou a Educação Profissional no país”.
Segue a íntegra:
“Ele perdeu o seu primeiro emprego fixo na reforma do ensino estadual de 1971, quando a Filosofia saiu do currículo do curso colegial clássico. Jovem avareense que apenas iniciava sua carreira, o professor Francisco Cordão, o Chico, soube, contudo, escrever um capítulo singular nos anais da Educação Profissional no Brasil.
“Ironicamente, a perda dessa cadeira me forçou a ir a campo e me aprofundar na área da Administração Escolar”, revela o estudioso que se especializou em Supervisão de Ensino.
A prematura exclusão do magistério estadual motivou-o a buscar caminhos alternativos. Prestou concurso para orientador no Serviço Social do Comércio (Sesc), foi aprovado e lá ousou e inovou na educação social e comunitária em unidades operativas da instituição. Seu criativo trabalho logo chamou a atenção e ele recebeu convite para trabalhar no Serviço Nacional do Comércio (Senac), onde desdobrou-se e ampliou os leques do ensino profissionalizante em São Paulo. Inclinado a reformar o sistema de ensino para aprimorar a Educação Profissional, Cordão optou no Senac por investir em pesquisa, planejamento e avaliação de métodos, processos, conteúdos programáticos, arranjos didáticos e modalidades de programação para conquistar bons resultados. E tais resultados vieram da preparação de profissionais que tendo “aprendido a aprender e a gerar autonomamente um conhecimento atualizado, inovador, criativo e operativo”, explica, conseguiram incorporar as mais recentes contribuições científicas e tecnológicas das diferentes áreas do saber.
Cordão considera uma bênção ter trabalhado por mais de trinta anos no Senac, onde reconhece seus ganhos na convivência humana e profissional com conselheiros, dirigentes, técnicos, professores e funcionários, incluindo os mais humildes. “Tive sempre liberdade técnica e fiz o melhor seguindo a própria consciência profissional. Acredito, sem falsa modéstia, que pude dar minha contribuição ao Senac e ao desenvolvimento da Educação Profissional no Brasil”, diz, ciente de ter cooperado para avanços no setor. Para o professor, entretanto, cada dia um novo desafio se apresenta aos mundos do trabalho e da Educação Profissional e Tecnológica no país, marcados pela complexidade das contínuas mudanças no mundo das ciências e das tecnologias com reflexos diretos na organização do trabalho e na ordem social e econômica.
Nesse contexto, segundo Cordão, o primeiro grande desafio é o de vencer o preconceito contra a Educação Profissional, ainda considerada por grande parte dos educadores como uma espécie de Educação de segunda categoria, associando-a à “formação de mão de obra”, reproduzindo, assim, o dualismo existente na sociedade brasileira entre as chamadas “elites condutoras” e a grande maioria da população trabalhadora. “A Educação para o trabalho ainda não tem sido tradicionalmente colocada na pauta da sociedade brasileira como um bem universal”, lastima.
Nascido num sítio, filósofo e pedagogo pretendia ser padre
Neto de exilados espanhóis e filho de Pedro Parra Cordão, Francisco Aparecido Cordão nasceu em 21 de março de 1945. Ainda pequenino, Chico perdeu o pai e coube à mãe, dona Maria Leme de Jesus, na zona rural criá-lo junto de José, seu único irmão. “Nasci no pé da Serra de Botucatu, no Bairro dos Rochas, próximo ao provável traçado da Trilha Peabiru, nas terras antes ocupadas pelos valorosos índios Caiuás. Vem daí o meu fascínio pelas noites de lua cheia e seu clarão nas matas e prados”, descreve emocionado.
Pequena, humilde e improvisada numa antiga tulha. Assim era a primeira escola do futuro educador. Quem o alfabetizou nesse paiol e lhe ensinou matemática e ciências por três anos foi a professora Cynira Gonçalves. “Nessa modesta academia escolar multisseriada eu comecei a minha longa jornada para aprender a aprender, a fazer, a conviver e a ser”, conta. Ele lembra alegremente que após as aulas brincava com as galinhas e os cavalos, bem como plantava cebolas, orientado com carinho pelo padrasto Bertolino de Souza Rocha, o Bertinho, neto do major Vitoriano, fundador de Avaré.
Aos nove anos Chico mudou-se para a cidade e estudou no Grupo Escolar Matilde Vieira. Seu interesse pela leitura mereceu incentivo de Elvira Scarlato, dona da única livraria local que, tocada por vê-lo vendendo bananas empurrando um pesado carrinho de pedreiro, lhe ofereceu bons livros. “Eu era caipira do mato. Assim me chamava o monsenhor Celso Ferreira, de quem fui coroinha. Ele me ensinou a língua pátria e seu exemplo me fez querer ser padre, pois eu ficava fascinado com seus sermões, com sua verve literária e com sua capacidade de improvisação da fala”, relata.
Nessa época o menino conheceu a sua maior benfeitora: a pianista Esther Pires Novaes. Ela lhe custeou os estudos nos seminários de Botucatu e de São Paulo, onde graduou-se em Teologia. Porém, desistiu do sacerdócio, optou pelo magistério e lecionou Filosofia por breve período numa escola estadual do Bairro Ipiranga, na capital, onde teve frutíferas experiências até ser demitido. “Por tanta generosidade dona Esther merece meu aplauso e minha eterna gratidão”, declara.
Casado com a professora Maria Salete Malavazi, hoje, aos 76 anos, Cordão dirige a Peabiru – Consultores Associados em Educação. Aposentado, alegra-se por ter mais tempo para curtir o filho Daniel Luiz e os netos Renato Luiz e Jorge Daniel.
Conselheiro da Educação nas três esferas governamentais
Por conta de sua erudição e da extensa folha de serviços à causa do ensino, o professor Cordão acompanhou, nas últimas décadas, mudanças positivas a partir da Constituição de 1988 com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, e do Plano Nacional da Educação (PNE), em 2014. Para cooperar, o pedagogo ocupou postos-chaves ao integrar o Conselho Estadual de Educação de São Paulo (do qual foi presidente), o Conselho Municipal de Educação de São Paulo e a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação.
Também presidiu o Fórum Nacional de Conselhos Estaduais de Educação, a Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento de Recursos Humanos (ABTD) e deu consultoria ao Programa “Aprendendo a aprender”, da Secretaria Estadual de Emprego e Relações do Trabalho de São Paulo.
Cordão representou o Brasil no Mercosul Educacional e no Conselho da Federação Internacional de Organizações de Treinamento e Desenvolvimento (IFTDO). Com tantas qualificações tornou-se conferencista e falou em muitos eventos no Brasil e no exterior.
Autor de artigos e ensaios sobre educação e formação profissional, desenvolvimento de pessoal e diretrizes curriculares nacionais, em parceria com Francisco de Morais, ele escreveu o livro “Educação profissional no Brasil”, em cujas páginas traça um panorama histórico do tema da sua predileção.
Por tantos méritos, o educador avareense foi eleito, em 2009, titular da cadeira 28 da Academia Paulista de Educação.
Gratificado, Cordão louva seus professores e os colegas com quem conviveu e trabalhou, num processo de mútuo aprendizado, ao longo de mais de meio século de paixão pelo magistério.”