Universidade
Aulas noturnas oscilando entre dezenove e vinte e três horas. Seria esse tempo o suficiente para uma formação superior? Depois de cumprir um dia de trabalho em emprego, normalmente, de baixa remuneração e passar muitos minutos afogado em coletivos indesejáveis, lá vai esbaforido para um rápido lanche – o suficiente para espantar a fome – a esse custo, alcança a sala de aula, senta-se na cadeira mais próxima e entende ser aluno apto a empreender marcha ao diploma de um curso superior, de instituição que, beneficiada com o “jeitinho brasileiro”, não preenche os requisitos necessários e continua burlando a boa fé. É quase instituição universitária. Há ainda outras mazelas que complementam a má formação superior de jovens brasileiros. O professor, este, abatido pelo cansaço e outros percalços já conhecidos se apresenta à sala de aula e se depara com o que lhe espera: alunado sonolento, crédulo, incauto, empurrado para dentro das escolas, por enganosa política educacional que, por lei, concede abatimento no resultado de sua escolaridade anterior, como se mercadoria fosse, suscetível de pechincha, por ser afrodescendente, índio, desprovido de sucesso financeiro ou qualquer outra suposta “deficiência”, menos a responsabilidade do poder público de ter-lhe oferecido escolaridade anterior honesta. A bondade apontada é falsa; não só é uma odiosa discriminação, como a busca ofensiva de privilégios eleitoreiros. Para coroar a turbulenta oferta de formação superior, resta, ainda, o mais grotesco abandono daquilo que se entende por pesquisa, a grande falha em muitas universidades brasileiras. Não há como a universidade coroar suas realizações sem oferecer à sociedade o resultado de suas pesquisas. Para encerrar esta fase da indignação de educadores, voltamos aos alunos, esses jovens egressos de baixa escolaridade e que, por não se aperceberem desse engodo, não raro estufam-se em dúbio ufanismo, sentem-se grandes entre seus patrícios e não sentem a submissão no contexto internacional comparativo e na disputa ocupacional. Ao final desta sinfonia ouve-se, ao longe um gemido; logo mais, outro. É o futuro. A. Fioravante/2015 A.