Brasil terá Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio
FONTE: Jornal O São Paulo, por Daniel Gomes
(Texto enviado pelo acadêmico Luiz Gonzaga Bertelli)Com a medida, haverá pela primeira vez no País um currículo nacional obrigatório
Aprovada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) no dia 4, após mais de três anos de discussão, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio depende apenas da homologação do Ministério da Educação para entrar em vigor.
Com a medida, haverá pela primeira vez no País um currículo nacional obrigatório, porém isso não significa uniformização, pois se prevê maior flexibilidade para que o agrupamento dos conteúdos se adeque às realidades regionais e às escolhas dos estudantes.
O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS EM EDUCAÇÃO
‘É um grande retrocesso’
Essa é a avaliação de Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) sobre o texto da BNCC do Ensino Médio. Araújo considera que a Base aumentará ainda mais o número de 1,7 milhão de jovens, entre 15 e 17 anos, que não cursam o Ensino Médio, e afetará a formação cidadã dos estudantes. “O foco dessa Base é na ação privatista, na mão de obra barata e imediata para atender à demanda do capital. Isso será péssimo para a formação humana dos nossos estudantes”. Ele disse que a entidade irá à Justiça para impedir que a Base seja homologada e colocada em prática nos estados.
‘Precisamos de uma base comum porque temos uma nação continental, com muitas características regionais’
Esse é o entender do professor Ítalo Francisco Curcio, pós-doutor em Educação e coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Mackenzie. Curcio considera que um dos principais desafios da BNCC do Ensino Médio será “a adequação das matrizes curriculares regionalizadas, em especial nas redes estaduais”, notadamente por causa do momento de transição dos governos estaduais. “Será que aquilo que se ensina ao estudante na região Nordeste tem que seguir o mesmo encaminhamento, método e estratégias do trabalhado em outras regiões? Claro que não. A realidade é regionalizada, porém, precisamos de algo comum, pois a nação é uma só”, avaliou à reportagem.
O Pós-Doutor em Educação relativiza os argumentos de que com a Base se passará de uma escola “conteudista” para uma escola “tecnicista”. “Isso vai depender de como cada secretário de estado encaminhará a questão. Será preciso trabalhar com os objetivos atitudinais e comportamentais, com as habilidades, pois o que vemos hoje, infelizmente, na rede pública, é um conteúdo não contextualizado: o estudante aprende algo em Matemática, mas não sabe para que vai usar esse assunto específico em sua vida, por exemplo”.
‘Implementar com qualidade e equidade será o desafio’
Assim se manifestou o Movimento pela Base Nacional Comum, um grupo não governamental de profissionais da educação. Em seu site, o grupo também afirma que “na construção e implementação dos novos currículos, a atenção se voltará, por exemplo, para como organizar a progressão das aprendizagens e como equilibrar a parte comum com a flexível (os itinerários formativos determinados pela Lei do Novo Ensino Médio)”.
‘No arranjo curricular, o aluno pode deixar de ver conteúdos muito importantes’
O alerta é feito pelo professor Antonio Carlos Caruso Ronca, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação da PUC-SP. Ronca considera importante que o País tenha uma BNCC, mas acredita que a versão aprovada para o Ensino Médio é ruim, “peca pelo exagero de habilidades e competências, e assim haverá uma complicação no trabalho do professor”. Ele também criticou a supervalorização dada às disciplinas de Português e Matemática. “O estudante deve ter o direito de conhecer todo o conteúdo historicamente acumulado, de se situar sobre a região onde está, de perceber os problemas da região e de se formar na qualidade de cidadão”, comentou.
‘A organização deixa ser estanque e se torna mais focada no cotidiano’
Assim avaliou, em entrevista ao portal G1, Eduardo Deschamps, presidente da comissão da BNCC no Conselho Nacional de Educação. “Em vez de estudar especificamente uma disciplina de Física ou Química, eu posso tratar de um problema de Matemática e Meio Ambiente, aplicar os conhecimentos conjugados”, exemplificou.
(Com informações de G1, MEC, Agência Brasil e Movimento pela Base Nacional Comum) (Colaborou: Fernando Geronazzo)