Inovação: o que é e o que precisa
Inovação: o que é e o que precisa
Flavio Fava de Moraes, 2012
Inovação é a palavra da atualidade principalmente nos setores empresarial, econômico, político e acadêmico a ponto de integrar nome de leis, programas, secretarias, ministérios, currículos, pólos tecnológicos, incubadoras de empresas, entre outros.
Contudo, é facilmente perceptível que a maioria dos interessados nesta temática têm dificuldades de compreender e comunicar todas as abrangentes facetas que o termo incorpora.
De início basta destacar ao longo do tempo as inúmeras tentativas de definição (vide manual de Oslo) dentre as quais “parece” ter sido consagrada aquela adotada em 2011 pela Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE) como sendo a mais objetiva ao enfatizar que “a inovação depende das pessoas educadas e treinadas que sejam capazes de gerar e aplicar conhecimentos e idéias no trabalho e na sociedade em geral”. É também ressalvada a imprevisibilidade de, ao mesmo tempo, encontrar-se argumentos que facilitam ou dificultam o estabelecimento de qual a extensão e/ou a relação da inovação com habilidades, atributos e competências.
O que é pleno consenso para que as pessoas possam inovar é serem dotadas de requisitos básicos em sua formação tais como capacitação em leitura, escrita, informática, fundamentos linguísticos, numéricos, técnicos e administrativos. Adicionalmente devem possuir valores diferenciados como: liderança, persistência, mente aberta e corajosa, criatividade-design, participação, motivação, etc… Sem dúvida, estas propriedades (mais concentradas na idade entre 20-40 anos) são necessárias à inovação e estão distribuídas em níveis educacionais diferenciados entre técnicos de nível médio, profissionais de nível superior e doutores acadêmicos dedicados à ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento.
Além da qualidade e valorização do capital humano sob permanente capacitação, para inovar é imprescindível ter menos burocracia e contar com boa infraestrutura, incentivos, investimentos e uma adequada estrutura organizacional, ambiental e emocional. Estas condições não significam fatores periféricos pois são indubitavelmente essenciais para o êxito da inovação e do seu capital social. Este capital social é fundamental na promoção de interações em redes nacionais e internacionais para criar e usar o aprendizado, preservando e aperfeiçoando o conhecimento e a modernização das ações futuras. Se estes indicadores constituem metas para os adeptos da inovação, eles são mandatórios para os dirigentes institucionais e empresariais.
A inovação não é exclusivamente vinculada ao “radicalmente novo” pois também incorpora a capacidade de “adotar” e/ou “adaptar” processos ou produtos fazendo ações incrementais diferentemente daquelas que envolvem pesquisas de alta complexidade, originalidade ou ineditismo. Portanto, conhecimento, talento e habilidades necessárias para um determinado projeto inovador nem sempre são exigidos de forma ultra especializada podendo ser mais relevante a opinião dos mais envolvidos pela experiência adquirida no trabalho do que pela formação acadêmica tradicional.
Ou seja, nestes casos temos muito das consideradas habilidades “estéticas” ou ocultas que são inquestionavelmente importantes mas que só se tornam visíveis através da boa conduta cotidiana que é rapidamente correlacionada com bons resultados inovadores que não precisam ser obrigatoriamente patenteáveis.
Pode-se acatar, portanto, os dados estatísticos obtidos junto a 85% de usuários norte-americanos demonstrando que a inovação proveniente das instituições estatais ou privadas mais compromissadas com uma educação qualificada e com atividades de ciência e tecnologia não só garantem à nação melhor competitividade e crescimento como tornam a vida humana mais saudável, mais fácil, mais confortável e geram, cada vez mais, maiores e melhores oportunidades para as novas gerações.
Já publicado no Jornal da Fundação Faculdade de Medicina/Agosto-2011.
Prof.Dr. Flavio Fava de Moraes
Diretor Geral da FFM e Professor Emérito do
Instituto de Ciências Biomédicas – USP
Acadêmico da Academia Paulista de Educação – Cadeira nº 1
Foi Reitor da USP e Diretor Científico da FAPESP