Quem foi Ernesto Manoel Zink?
Ernesto Manoel Zink
1905 – 1971
“Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria.”
Jorge Luis Borges
Na década de 1940, as poucas bibliotecas existentes no interior de São Paulo tinham um acervo pequeno e estavam junto às escolas. O “bibliotecário” era uma pessoa geralmente com boa vontade, mas sem nenhum preparo técnico para ocupar o cargo. Como o acervo era pequeno, com pouca variedade de assuntos, dava para que ele localizasse os livros usando uma técnica bastante rudimentar.
Nessa conjuntura, pela primeira vez, tive noticias da existência de cursos que capacitavam bibliotecários. Estudava em Campinas quando a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, ampliando sua oferta de cursos, criou o de Biblioteconomia.
Monsenhor Salim, sempre à frente das pessoas do seu tempo, sabendo que todo curso superior precisa de uma boa biblioteca tratou de formar profissionais para cuidar dela. Nessa ocasião, o Brasil tinha poucos cursos de Biblioteconomia: no Rio de Janeiro, o da Biblioteca Nacional e o do DASP.; em São Paulo, a Escola de Biblioteconomia. Com essa iniciativa, era a primeira vez que se instalava uma Escola de Biblioteconomia no interior do Estado de São Paulo. Campinas poderia então ter uma grande Biblioteca! Não tive dúvidas! Matriculei-me no novo curso. Foi quando conheci o Professor Zink.
Fiquei surpresa ao saber que um só professor ministraria todas as matérias. Fiquei preocupada. Eram aulas de Classificação e Catalogação de Livros, Organização e Administração de Bibliotecas e também a Historia do Livro. Dois anos com o mesmo professor!
No curso falava-se em Bibliotecas que abrigavam milhões de livros. Como localizá-los? A catalogação e a classificação permitiam que tal acontecesse de um modo prático. O Prof. Zink nos iniciou no sistema de classificação de Dewey (bibliotecário de Massachussets – USA) modificado pelo Congresso Internacional de Bibliografia (Bruxelas – Bélgica) de uma maneira que nos permitiu vencer o que achávamos até então muito difícil. Com alegria seus alunos perceberam que estavam habilitados a classificar, catalogar, organizar e administrar as mais variadas bibliotecas.
Quem era o Prof. Zink que tão habilmente nos ministrou aulas durante dois anos de um modo tão agradável e eficiente? Contemos primeiro como ele se tornou um professor especial.
Na segunda metade do século XIX, imigrantes alemães, desejosos de manterem seu vínculo com a pátria de origem e também de se ajustarem à nova, além de suas atividades religiosas, fundaram escolas e clubes. Em Campinas (SP), foi criada a Deutsche Schule (Escola Alemã) na Rua Visconde do Rio Branco com apenas uma sala de aula e, mais tarde, com quatro, uma para cada série do curso primário. Os professores eram alemães e, portanto, as aulas eram ministradas em alemão. Johann Jacob Zink era um deles e, em 1892 , decidiu abrir uma outra escola: Neue Deutsche Schule (Nova Escola Alemã), ligada a comunidade luterana de Campinas.
Na década de 1930, a Nova Escola foi absorvida pela Deutsche Schule administrada pelo filho do pastor Johann Jacob, Carlos Cristovam Zink, que teve uma atuação brilhante.
Carlos estudou em Campinas e, posteriormente, na Alemanha. Foi professor de música, compositor e fundou, dirigiu e regeu vários corais. Destacou-se também no campo da alfabetização e introduziu muitos dos seus alunos no mundo das letras. Seu nome está inscrito no Livro do Mérito da cidade de Campinas. Em decorrência da Segunda Guerra Mundial ,o nome de sua escola passou a ser Escola Rio Branco.
Na década de 1920, Carlos Cristovam já se preocupava em preparar seu filho Ernesto Manoel para dar continuidade à Escola e, para tanto, o enviou para Alemanha onde Ernesto Manoel estudou magistério, .para ser professor. Ao retornar ao Brasil, passou a trabalhar da Escola e,em 1962, passou a dirigi-la..Como podemos ver são três gerações de educadores.
O filho de Carlos Christovam Zink e de Sophia Maria Müller Zink, Ernesto Manoel Zink, nasceu em 13 março 1905, em Campinas, SP. Casou-se com Margarida Vosgrau em 29 de dezembro de 1927, tendo com ela três filhos, Esther (1929), Egon Ernst (1931) e Eduardo (1936).
Além da escola, Ernesto Manoel também trabalhava no Instituto Agronômico de Campinas que já tinha uma biblioteca com um acervo significativo e, portanto, precisando de um bom bibliotecário. Ernesto Manoel matriculou-se na Escola de Biblioteconomia de São Paulo. Lecionava Alemão no Goethe Institut de Campinas e na empresa Bosch. Quando Monsenhor Emilio José Salim pensou em criar uma Escola de Biblioteconomia convidou o professor Zink para trabalhar nesse projeto
Não podia ter feito melhor escolha. Metódico, detalhista nos iniciou na Classificação e Catalogação de livros. Poderia ter sido um trabalho desagradável enfrentar as minúcias que essas disciplinas exigiam, mas o Prof. Zink, apaixonado por tudo o que fazia, conseguiu tornar suas aulas interessantes. Organizava muitas atividades para nos mostrar como organizar e administrar bibliotecas. Visitamos inúmeras delas:
• Instituto Agronômico de Campinas;
• Faculdade de Agronomia de Piracicaba;
• Municipal de São Paulo, a Circulante, a Biblioteca Infantil onde conhecemos as bibliotecárias pioneiras, Lenira Fracaroli e Adelpha Figueiredo.
• Biblioteca Nacional e do Itamarati no Rio de Janeiro.
Essas excursões eram agendadas e eles nos permitiam aproveitar significativamente delas. Tínhamos acesso ao material de orientação das bibliotecas visitadas , o que nos permitiu perceber com clareza a dinâmica de cada uma. Além do mais, contávamos com a presença do professor, sempre bem-humorado, que fazia de cada excursão um evento prazeroso e de grande eficácia. Para todas as atividades ele era capaz de trazer um cunho positivo. “Foi um dos fundadores da Sociedade Harmonia, cujos bailes e festas marcaram época na colônia alemã de Campinas.”
Em 1946 foi inaugurada a Biblioteca Municipal de Campinas que, em 1971, recebeu o nome de “Professor Ernesto Manoel Zink” (Decreto no.3911 – 15/09/1971 do prefeito de Campinas).
Em tudo o que fazia sempre se empenhava em obter a melhor qualidade. Foi assim que deu inicio à organização da biblioteca da Unicamp, porém, outra paixão o impediu de concluir essa tarefa. Adorava futebol e era torcedor da Ponte Preta. Durante uma partida desse time, no Estádio Moisés Lucarelli, em Campinas, o professor Zink sofreu um enfarte fulminante(04/04/1971), interrompendo um belo trabalho educacional para as bibliotecas do Estado. .
Bibliografia:
• Informativo mensal do Colégio Rio Branco- Campinas, Ano V – n. 03- maio/2008;.
Documentos eletrônicos:
• Colégio Rio Branco – Campinas Wikipédia, a enciclopédia livre. Histórico – http://pt.wikipedia.org/wiki/Col%C3%A9gio_Rio_Branco_%28Campinas%29
• Unicamp – http://www.ib.unicamp.br/historico N. B.
Autora da biografia: Dra. Hebe C. Boa-Viagem A. Costa
Advogada, bibliotecária, pedagoga e socióloga. Escreve contos, biografias, e historias infantis, Publicou os livros Elas,as pioneiras do Brasil, Enfermeiras do Brasil,Elas vieram de longe (Tb. Editada na França “Elles sont venu de loin…Yvelinedition ),Mestres, Pois é… Cada um na sua!!! e Ah! Essas crianças..Participou de 20 Antologias e é colaboradora do Boletim da Academia Paulista de Psicologia tendo escrito 9 biografias de Patronos das cadeiras dessa entidade. Premios. 2 em concursos da AFPSP – Jornal do Servidor; Laureat de l’association Merite et Devouement Français – Paris