Discurso de Saudação à Acadêmica Sonia Teresinha de Sousa Penin
DISCURSO DE SAUDAÇÃO À ACADÊMICA TITULAR
SONIA TERESINHA DE SOUSA PENIN
pela Acadêmica Titular Myriam Krasilchik
16/2/2002
Agradeço à Academia a oportunidade de saudar a professora Sonia Terezinha de Souza Penin, que conheci em meados de 85 quando ingressou como professora de Didática, no Departamento de Metodologia do Ensino Educação Comparada.
Nesses quase vinte anos de convivência, um relacionamento de colega cada vez mais se aprofunda em amizade consolidada por uma vida acadêmica, preocupações e trabalhos comuns.
Como menciona em seu memorial para concurso de professor titular, suas raízes estão em Araçatuba (fato ilustrado por seu sotaque que quase rivaliza com o nosso piracicabano). Filha caçula de uma família de nove irmãos, compartilhava preocupações com as irmãs que davam aulas e discutiam seus problemas nas reuniões familiares. Admite que nesse ambiente desenvolveu o gosto pela leitura, tomou a decisão de cursar o Normal e depois a Faculdade de Filosofia – começou o curso em São José do Rio Preto e depois transferiu-se para São Paulo e passou a morar no CRUSP em 1965, como aluna do Curso de Pedagogia que terminou em 1967.
Teve intensa militância política com origens na JUC e AP, que continuou mesmo já casada e com seus dois filhos Lara e Alexandre. Simultaneamente, começou exercício do magistério.
Creio que a análise da importância do CRUSP como espaço propício às
discussões de estudantes de vários cursos, com preocupações políticas e vivências diferentes merece ser analisado e desse componente acadêmico na
formação de lideranças universitárias dos que ali viveram. Cito alguns que lembro terem recordado episódios descritivos dessa fase de sua vida: Rogério Meneghini, Fernando Perez, Gil da Costa Marques, Jacques Lepenie, Baldijão, entre outros. A Professora Sonia fez o curso de pós-graduação em Psicologia da Educação na PUC de São Paulo, o que lhe deu oportunidade de conhecer mais uma Instituição. Trabalhou em projetos de pesquisa e na Prefeitura de São Paulo durante a gestão Mário Covas. Voltou para o Programa de doutorado na FEUSP, onde depois de prestar concurso passou a trabalhar.
Algumas facetas da personalidade e do trabalho da professora Sonia merecem destaque. Um deles é sem dúvida a sua erudição e busca incessante de leituras que representam mais do que modas passageiras. Seu interesse por obras clássicas compõem um sólido alicerce para suas atividades tanto na pesquisa como nos cargos públicos que ocupou e ocupa.
Esse é um outro aspecto fundamental na vida da professora Sonia: o de aceitar desafios em tarefas difíceis, muitas vezes desgastantes, como o trabalho no DEPLAN, Prefeitura e como coordenadora da COGESP, da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. O trabalho que desenvolveu em contato direto com o dia a dia da rede escolar constitui parte relevante de sua base profissional e conceitual. Não é conhecimento distanciado do pesquisador, mas o olhar crítico e compassivo do pesquisador-companheiro.
Gosto muito do seu estudo da relação entre sociedade ou realidade histórica e a vida cotidiana e sua análise do período de 1964 a 1980. Sua participação no Conselho Estadual de Educação é significativa e representa defesa constante da escola pública.
Como pesquisadora, que conheci melhor como sua examinadora em vários concursos, e leitora atenta de alguns dos seus textos, fez com que produzisse com rigor que sua formação e personalidade exigem uma tese de doutorado que abriu uma senda importante no estudo “cotidiano escolar”, expressão que é banalizada por alguns quando ignoram, por exemplo, a fundamentação teórica com que abre seu estudo em quatro escolas públicas de 1º grau, com o qual “teve como objetivo perseguir a gênese do processo educativo que se desenvolve no cotidiano escolar”, que segundo vários autores, é a base e não um sub-sistema transformada em livro Cotidiano e Escola – a obra em construção. A sua tese de livre-docência – A aula – espaço de conhecimento, lugar de cultura, continua os estudos na linha que escolheu.
Entre os inúmeros desafios que encarou, foi o de ir para rede de ensino e depois, apesar de instada a continuar prestando sua colaboração, voltar para a vida acadêmica, prestar concurso para professor titular, assumir participação em vários colegiados e para vice-diretoria da Faculdade, onde convivemos mais estreitamente dividindo tarefas quando da minha segunda gestão na direção da FEUSP.
Foi um convívio cordial e estimulante em que a franqueza permitiu que chegássemos a posições consensuais, mesmo partindo de pontos de vista diferentes.
Nessas ocasiões, posso constatar que a Professora Sonia diz sempre o que pensa gentilmente, mas sem receio de desagradar o seu interlocutor. Tem convicções firmes que sustenta, mas é sensível à argumentação contrária, que ouve com respeito e atenção.
Preserva, apesar de toda a sua experiência de vida, a “transparência” de quem não foi deformado pela malícia de política como acontece com muitas pessoas.
Hoje, na pró-reitoria de graduação da USP, tem nova tarefa difícil e estimulante que executa com denodo e competência. Aprofunda e amplia na Universidade a preocupação com o ensino tanto na escola fundamental e média como nos cursos de graduação na USP. No entanto, não se desliga das tarefas da sua escola, desta escola. Nesse turbilhão que é sua vida atual, encontrou tempo para participar da seleção de candidatos à Pós-graduação, e está plenamente envolvida em cursos de extensão para o ensino médio e formação de professores da rede pública.
Creio que não é necessário arrolar mais argumentos para deixar claro como a contribuição da nova acadêmica contribuirá para que a academia assuma liderança na proposição de mudanças necessárias à política educacional de São Paulo e do país.